Itamara 31/05/2021Uma mulher à frente de seu tempo.Ler, descobrir e refletir a história e os fatos a partir do olhar feminino é uma experiência muito enriquecedora. Além de nos chamar atenção a história que envolve a escritora Júlia Lopes de Almeida, como o fato de ser preterida nos círculos literários de sua época e ser impedida de fazer parte da Academia Brasileira de Letras mesmo participando de sua fundação, "A falência" é uma narrativa que nos faz refletir sobre a autonomia das mulheres e que papel ela possuem em uma sociedade patriarcal.
O ano é 1891, Rio de Janeiro, economia cafeeira em expansão e o retrato de uma família burguesa em ascensão. Adultério, escravidão, fanatismo religioso, conflitos familiares, relações de conveniência e ganância ao extremo são as temáticas desenvolvidas. O mais interessante é notar que não há aqui a intenção de um moralismo tão comum em certas obras, sobretudo quando se fala da traição. Os diálogos, que para mim são o ponto alto da obra, permitem que o próprio leitor reflita e chegue à conclusão que desejar.
A descrição dos cenários é tipicamente naturalista e por diversas vezes me lembrou "O cortiço", de Aluísio Azevedo - as cores, os cheiros, os corpos dos trabalhadores do café, permitindo assim uma visualização bem clara do ambiente.
Destaque ainda para a construção das personagens femininas e o quanto elas são bem mais desenvolvidas e aprofundadas do que os homens. O enredo constantemente direciona às mulheres o papel de protagonismo e demonstram que ainda que isso não fosse estimulado, havia um certo incômodo nas relações de gênero desde muito tempo.
"Nada vale antecipar as tristezas, que nem por isso as coisas deixam de vir, pelos seus pés ou pelas suas asas, quando têm de vir"
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