Vilamarc 14/03/2020Sinta o fluxo. Ou pode ser a maresia.Antes de iniciar essa resenha pensei em como começá-la, se pela minha insuperável inadequação aos contos (já que me esforço muito para torná-los empáticos ao meu gosto seletivo por romances), ou se começava pelos luminosos anos 1970 das revoltas estudantis, drogas vertiginosas, sexo, rock, cardinales, psicolelismo, descambando tudo em tropicalismos Brasilis, bem a aura desse livrinho.
Acabo então por dizer, que sempre pensei que essa fosse a minha década perdida, que nascera depois de onde deveria ter nascido, que tudo o que de bom penso sobre esses anos estão no Ovo. Todo desbunde de Caio Fernando Abreu está aqui, por vezes frágil, bobo, incompreensível, fulgaz. Por vezes cru e cruel, certeiro, bélico, ferino e apaixonante.
Mas é sério que tenho problemas com contos. Das três partes do livro, descartaria sem dó, toda a segunda parte *Beta*, da primeira *Alfa* salvo porque surpreenderam os contos "Gravata" e "Retratos". Da última parte *Gama* gostei de todos. Destaque para o conto que dá título ao livro "O ovo apulhalado" um profusão de referências culturais, de Tarsila a Clarice Lispector, de Beatles a Humpty-Dumpty de Alice.
Então, como dizem no mundo literário: sinta o fluxo. Ou pode ser a maresia.