A ocupação

A ocupação Julián Fuks




Resenhas - A ocupação


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Toni 19/02/2020

A ocupação [2019]
Julián Fuks (1981-)
Cia. das Letras, 2019, 134p. 📖

Entre as décadas de 80 e 2000, a literatura foi invadida pelo que Mª Valéria Rezende chamou de “ficção de bar e alcova”: uma série de livros escritos por homens brancos da classe média cujos personagens/narradores — homens brancos da classe média — penavam na tentativa de escrever romances sobre (sim, vcs adivinharam) homens brancos da classe média. Desde que Lispector ficcionalizou o lugar da escrita e o olhar preconceituoso do intelectual diante do universo “incompreensível” das massas (representadas por Macabéia), falar do outro se tornou uma pedra no sapato de muitos escritores. Como consequência, uma parcela da literatura voltou-se a si mesma, num exercício fadado à ruína muitas vezes contornado pelo relato auto-indulgente do próprio fiasco narrativo. 📖

Os livros de Julián Fuks são, em certa medida, herdeiros remotos dessa literatura solipsista, mas há algo em seu olhar que faz com que cada romance transcenda a mesmice, o umbiguismo e o descolamento da realidade que caracterizam seus predecessores. Como em "A resistência", Fuks consegue desfazer esse nó ético mais uma vez, e uma vez mais por meio da autoficção, de um entrelaçamento entre público e privado, um fazer-se praça, rua, prédio vazio, que nos conduz (e ao escritor) àquela impossibilidade de separar o literário do político. Aqui, três caminhos narrativos (o filho que encara a doença do pai, o escritor às voltas com a paternidade e a comunidade que sobrevive em um prédio abandonado) se encontram em uma literatura ocupada pelo imperativo de se fazer lugar de resistência, capaz de “afirmar sua própria soberania e inventar aves que [...] inventam um outro céu”. 📖
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"A ocupação" começa e termina com o silêncio das ruínas. Lugar de memória, de abandono, de esquecimento. Frente ao nosso fracasso civilizatório, o que resta ao escritor que não quer se eximir, mas tampouco pode se identificar com a multidão crescente dos desvalidos? A solução é ocupar a própria literatura. Até seu inevitável colapso — ou transbordamento.
#julianfuks #aocupação #companhiadasletras #literaturabrasileira
Thiago Ernesto 24/02/2020minha estante
Olá, Toni, tudo bem? De onde é essa citação da Maria Valéria de Rezende? Abraços.


Baldi 03/05/2020minha estante
Livro maravilhoso. Que escrita potente. A parte final é genial, com os elementos de metalinguagem entrando em cena.


Toni 04/05/2020minha estante
É mesmo, também gostei bastante do final. O Fuks é muito talentoso e tem um controle surpreendente da escrita.




Marker 02/03/2020

li, na ilustrada, uma crítica muito desassombrada de evando nascimento, que termina dizendo: "no mundo ideal, movimentos de apoio aos desfavorecidos seriam maciçamente auxiliados pelas megaempresas que sustentam o cenário global da desigualdade social. Infelizmente, nenhuma utopia literária conseguiu até hoje realizar esse milagre." logo abaixo do texto, um único comentarista corrobora e provoca: "a literatura precisa inquietar. se não faz isso, não cumpre o papel primordial. as coisas precisam - todas elas - ser incomodadas, no sentido de ser instigadas." me parecem, ainda que de certa forma favoráveis ao texto de fuks, testamentos de que este é um texto que opera em vibração muito mais branda que gostaria ou poderia. não é como se no livro anterior o escritor estivesse interessado em 'resistir' de forma enérgica, ou que essa ação direta seja necessária, mas há nessa homem-literatura brasileira, nessa 'literatura de alcova', como cunhou maria valéria rezende e lembrou berttoni licarião, uma certa falência da afamada autoficção. será o olhar para dentro, o investigar a si, o fabular da própria matéria, o caminho mais fortuito de se pensar uma ocupação de refugiados. é curioso que o capítulo onde o próprio fuks propõe essa mea culpa metalingústica soe melhor calculado que grande parte do texto, e este é um livro que realmente parece calculado em minúcia. pessoalmente, decepciona.
Alê | @alexandrejjr 13/05/2020minha estante
Achou, portanto, que a autoficção do Fuks desse vez não conseguiu extrair todo o potencial do tema (no caso os vários sentidos do "ato de ocupar" no livro, imagino eu)?


Marker 15/05/2020minha estante
sim, acho bem falho.




Ortega 14/12/2019

Tocante
Recomendo!
Para quem se sente perdido em 2019/2020, seja com o mundo lá fora ou com coisas íntimas, esse livro é um bom companheiro. Julian parece pensar muito em cada palavra (tanto que os livros dele partem da exploração de um só termo, o anterior foi Resistência e esse é Ocupação). São capítulos curtos com boas ideias concentradas. Nesse, ele mistura a experiência com uma ocupação popular, a doença do pai e a gravidez com a mulher. Ele investiga histórias tristes mas também de coragem, dele e das pessoas ao seu redor. Primeira vez que me fez querer recomendar um livro aqui :)
Karina.Agra 30/01/2020minha estante
Já quero ler!!!




Joao.Marcelo 10/07/2021

"A Ocupação" de Julián Fuks conta um pouco das histórias dos habitantes de um prédio ocupado na capital paulista. Um sírio, uma haitiana, um boliviano e brasileiros desterrados em seu país natal. Por trás da luta coletiva existem os dramas individuais: o horror da guerra, a catástrofe que destruiu uma família, a miséria absoluta ou a violência doméstica. E, muitas vezes, somente a luta coletiva consegue ajudar as pessoas a se reerguerem de suas ruínas.
O narrador mescla as histórias dos moradores do prédio ocupado aos seus dramas pessoais deixando a certeza que a capacidade de vivenciar o sofrimento alheio nos faz realmente humanos.
"Todo homem é a ruína de um homem, eu poderia ter pensado. Aquele homem que se apresentava aos meus olhos era a encarnação dessa máxima, um ser em estado precário, um corpo soterrado em seus próprios escombros."
"Disseram que você escreve sobre exílio, sobre vidas desgarradas, sobre árvores cujas raízes estão fincadas a milhares de quilômetros ..."
"Najati, Rosa, Demetrio, Ginia. Eles me contam as suas histórias, dizem coisas tão fortes que às vezes turvam os meus sentidos e eu já não sei quanto assimilo, e sobretudo não sei o que lhes devolver, não sei como retribuir.
Só o que faço é deixar que me ocupem, que ocupem a minha escrita: uma literatura ocupada é o que posso fazer neste momento. E é assim, num último movimento, que me vejo perdido - mas não no sentido libertador que você professou naquele dia. Meus ocupantes me conduzem para fora dos meus domínios, e eu já não sei bem por onde vou. Estou escrevendo um livro sobre a paternidade sem conseguir me tornar pai - e sondando a maternidade como se não soubesse que nunca a apreenderia. Estou escrevendo um livro sobre a morte sem tê-la jamais sentido apagar um corpo, numa especulação de sentimentos que um dia se fará risível, quando eu conhecer a dor. Estou escrevendo um livro sobre a dor do mundo, a miséria, o exílio, o desespero, a raiva, a tragédia, o absurdo, um livro sobre esta interminável ruína que nos cerca, tantas vezes despercebida, mas escrevo protegido por paredes firmes."
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Cardoso 09/11/2024

Morno
Realidade social de classes subalternas como reflexo e inspiração para a vida particular, normalmente pouco interessante, de uma típica classe média paulistana ilustrada (que, assim como a classe média ilustrada dos Estados Unidos, parece, cada vez mais, destacar suas raízes não paulistanas/estadunidenses para se verem livres do peso do privilégio). Bem escrito.
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Val 01/09/2021

A Ocupação: todo homem é a ruina de um homem?
Nada como ler por prazer. E a isso me levou o livro A Ocupação, do paulistano Julián Fuks, escolhido para leitura por recomendação do site literário português Wook. Fico eufórico quando adentro ao contexto de uma obra e esta me dá mais prazer pelo linguajar mágico e magnífico do escritor do que propriamente pelo enredo.
Não fossem o lastro e rastro ideológico que permeia o texto, poderíamos considerá-la uma obra de ótima qualidade literária.
Fucks escreve fácil, com muita elegância, poesia e objetivamente, sem arabescos linguísticos, apesar de suas permanentes figurações que ilustram drasticamente sua exiguidade descritiva.
Muitas obras, inclusive clássicas e consagradas, passam pelo contexto político apenas narrando-o, sem a necessidade óbvia de críticas ou de ser opinativa, tarefas que, no meu entendimento, cabem unicamente ao leitor. Não é o caso de A Ocupação, onde o autor procura infiltrar e até escancarar seus posicionamentos ideológicos em alguns trechos do livro.
A vitimização é seu estratagema na personificação do protagonista: os ancestrais morreram no holocausto, o pai sofre longamente no hospital, sua esposa teve um aborto, o cachorro de estimação também incorporou o sofrimento, as pessoas com as quais convive e compactua no hotel abandonado e por elas ocupado, são todas vítimas reais do destino e das mãos de outros homens, que promovem a guerra, o policiamento rigoroso, a esperteza nos negócios. Ou, como ele prefere, são vítimas da sociedade.
Aplicando aqui as palavras do próprio autor em outro contexto, “haveria afinal alguma virtude na simples condição de vítima?”. Claro que há essa virtude na ficção quando bem encaixada no enredo e não como linha condutora e ainda politizada.
Enfim, achei a leitura aborrecida pelo relatado e por repisar as mesmices do noticiário cotidiano. Como o próprio Fuks assume, “estou escrevendo um livro sobre a dor do mundo, a miséria, o exílio, o desespero, a raiva, a tragédia, o absurdo (...)”. E nele, apesar da excelente escrita do autor, ele não se permite ficcionar com criatividade e sua elegância e poesia perdem-se num infeliz panfleto político.

Valdemir Martins
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pedropires 15/10/2021

inquietante
Esse livro relevou muito sobre mim, enquanto o lia. A inquietação sentida pelo personagem ao se adentrar na realidade das ocupações por moradia na cidade de São Paulo e os efeitos na sua relação com conhecidos e com ele mesmo, também foi a minha ao me debruçar com os enormes sofrimentos e, ao mesmo tempo, a incrível capacidade de organização e luta dos despossuídos desse país.

O livro te leva em uma viagem pelo inconsciente de Sebatian, que se confunde com a identidade do próprio autor, enquanto ele tenta descobrir qual é o seu papel, sendo alguém com conforto e tendo seus direitos fundamentais garantidos, ao apoiar e relatar a luta dos que ocupam pra viver.

Em uma analogia muito esperta, o autor busca relacionar o verbo ocupar aos seus significados mais subjetivos, nos quais a alma também pode ser ocupada pelas dores e demandas alheias, se não tivermos com clareza os nossos desejos mais íntimos e nossas responsabilidades sociais.
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Douglas.Bonin 08/11/2021

A beleza das ocupações
"Todo homem é a ruina de um homem"
Assim começa este romance com jeitinho de memórias.
Gostei muito da poética do autor, torna a escrita linda e fluida.
A forma como ele entrelaça os movimentos de ocupação, a relação com o pai doente e o gravidez da mulher é bem feita.
Vale a pena, principalmente como forma de entender que os movimentos de ocupação são constituídos por pessoas de verdade, e não só numeros como os noticiários falham em relatar.
Aquelas pessoas somente sonham com a casa propria.
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paloma 23/12/2021

Escrita primorosa, faltou recheio criativo
A ocupação - Julián Fuks

O livro aborda o tema ocupar em três arcos narrativos: uma ocupação por sem tetos em um prédio abandonado de sp, a ocupação da barriga da mulher do narrador por um feto e a ocupação do corpo do pai por ar (está internado em um hospital). A estrutura é semelhante à do seu livro anterior, A resistência, onde o título tb é explorado em contextos diferentes. Ambos são autoficção narrada pelo mesmo personagem, Sebastián, alterego de Julián, e tentam articular contexto político e social com histórias pessoais. A escrita de Julián Fuks é muito precisa e só por isso já vale a leitura, mas, diferente de A resistência, faltou recheio em A ocupação, pois parece ser um relato reflexivo de experiências reais, com pouca margem para a ficção, para fazer a história crescer e se articular.

A parte sobre a ocupação do Hotel Cambridge é baseada em um episódio real que o escritor acompanhou de perto. A história traz relatos de refugiados da Síria, Peru, Haiti e Brasil (refugiados de políticas públicas). Pessoas comuns desamparadas, vítimas de guerra, terremoto e do capitalismo, e que são humanizadas pelos seus relatos, suas memórias, seus vínculos afetivos e seus sonhos. Na ocupação, Sebastián passa a refletir sobre seu papel naquele contexto. Não lhe falta casa nem meios para viver. É um intelectual com sensibilidade social, mas não compartilha aquelas experiências e demandas. Sente-se então alguém que está se apropriando mais uma vez de pessoas já tão exploradas, roubando-lhes suas histórias. Esse é o forte de Julián: refletir sobre si; sobre suas questões íntimas e sobre o papel que ocupa quando em comunidade e isso ele faz muito bem.

*Há um filme sobre a ocupação: Era o Hotel Cambridge


"A literatura não me interessa em nada. Só o que me interessa é a abertura para o diálogo." (Frase dita pelo personagem Najati, refugiado sírio)
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10/01/2022

Ocupações
É uma escrita bem diferente das que eu leio mas no final me acostumei e gostei.
Nesse estilo dramático de contar uma história, Julián traz três cenários: seu casamento e a tentativa de gravidez, seu pai doente e uma ocupação em São Paulo.
O autor entrevista os sem teto da ocupação e passa a conhecer um pouco de suas difíceis trajetórias.
No final do livro a gente percebe que tudo que ele conta não deixa de ser uma forma de ocupação.
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Tereza 01/02/2022

A Ocupação
Livro que impressiona, J. Fucks investiga os sentidos e as práticas de ocupações. E um autor que tem muito marcada a própria subjetividade no mundo que observa e na percepção de liames entre o fora e o dentro, o que acontece no mundo exterior e no seu mundo íntimo, pessoal.
É escrito num momento de desencanto com a política nacional, o governo Bolsonaro e suas aberrações, o autor fala de outras ocupações - a de um prédio por pessoas desabrigadas, exiladas de países estrangeiros e exiladas de seu próprio país; da ocupação do ventre de sua mulher com uma gravidez, e do vazio com a possibilidade da morte de seu pai doente.
Descreve as "ruínas" das pessoas que encontra na ocupação e também no semblante de seu pai: trazem histórias de sofrimento e também de esperanças - de ocupar um prédio vazio, de criar um elo de solidariedade com outros, de acreditar no diálogo. Entre os exilados, um sírio que fugiu da guerra, um mexicano que fugiu da miséria, uma brasileira que cansou de ser ocupada e passou a ocupar.
Outros temas abordados: sua esperança de paternidade, o aborto de sua mulher e o silêncio sobre essa experiência.
Sua questão: ao procurar sair de si para ver o mundo encontra articulações entre o fora e o dentro, remete tudo ao seu próprio universo.
Não sei se essa última ideia procede: sua literatura se abre para a alteridade, que busca compreender, num trabalho de proximidade e reflexão. E lindo com faz isso.
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Marcianeysa 14/03/2024

Amei a escrita do autor, fluida e muito envolvente.
O livro é autobiográfico, apesar de possuir um alter-ego, o autor inclui pessoas e eventos de sua vida na história.
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gabriela nagel 20/09/2023

Um livrão! O autor conseguiu abordar temas importantíssimos e delicados de forma completamente poética!
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Mion 01/07/2023

Leitura para realmente transcender-se de si
Fantástico !!

A maneira comque o autor consegue entrelaçar poesia e reflexão, como as suas palavras nos guiam por caminhos sempre muito encantados até nossas emoções, memorias, pensamentos, histórias e sentimentos é um verdadeiro passeio.

Fiz questao de diminuir a velocidade de leitura para tentar agarrar e segurar as frases poesitas e inspiradas , suas imagens e ideias. E já me preparei para reler. Isso é uma necessidade como se precisasse para terminar de ler a historia. Que se nao o fizer, seria como deixar o livro incompleto.

E ler os capitulos curtos procurando identificar o significado do titulo em cada um deles...uau!! Há várias experiências que vao alem do texto e do acontecimento para alcançarmos tal definição.
E algumas delas...sao muito poética.

Esperava que fosse um livro mais materialista, calcado na realidade, as me deparei com um livro transcedental, que foi alem de mim.

Muito obrigado literatura por me surpreender e me entregar um livro que transcendeu minhas ideias de tantas maneiras!

Mia Couto fez parte de um lindo trabalho.
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Murilo Lorençoni 24/05/2024

Ocupação
Um livro reflexivo que gira em torno da ocupação de um prédio, da ocupação do espaço de pai, da ancestralidade e, também, da ocupação política
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