spoiler visualizarKatharina.Pedrosa 05/08/2024
O mundo novo, na verdade é o que vivemos
No ano de 2540, a sociedade é controlada por um sistema distópico onde Henry Ford é adorado como uma divindade, e seu modelo de linha de produção é usado para criar humanos em usinas de inseminação artificial. A sociedade é rigidamente dividida em castas, com os Alfas no topo e os Épsilons na base. Humanos são produzidos conforme a demanda: mais Alfas para funções intelectuais e mais Épsilons para trabalhos manuais. Alfas são altos e inteligentes, enquanto Épsilons têm capacidades intelectuais reduzidas devido à sua modificação genética, recebendo menos nutrientes e oxigênio na fase embrionária para se adequar a tarefas exaustivas. Ou seja, nem aqueles que estão nas castas mais altas, escapam da máquina social.
Após o nascimento, todos passam por um condicionamento mental rigoroso. Crianças Épsilons são submetidas a choques elétricos para desencorajar o interesse por livros e a hipnopedia repete incessantemente frases para inculcar valores e regras adequadas a cada casta. Os valores desta sociedade são: coletividade (para que a individualidade seja reprimida) , repúdio aos vínculos amorosos e à amizade (para que as pessoas não tenham emoções que podem levar à conflitos) , consumismo ( se algo der defeito, compre outro, afinal, a economia precisa girar) e a busca pelo bem-estar (obtido através de entretenimento, como: música, cinema 4d, sexo casual e violento).
O governo distribui a droga SOMA para garantir uma felicidade artificial e evitar qualquer sofrimento ou revolta. Aqui, já abre a discussão sobre a indústria farmacêutica e drogas recreativas, embora o autor não explore esses temas. De toda forma, o prazer é o mecanismo perfeito de controle: mantém as pessoas satisfeitas e ocupadas, reduzindo a propensão para a insatisfação e a revolta. Qualquer semelhança com as redes sociais, é mera coincidência?
Nesse sistema, até a natureza foi capturada. Por não gerar trabalho para as fábricas, foi criado um incentivo para a prática de esportes ao ar livre. Contudo, esses esportes são acompanhados por equipamentos e são feitos em lugares distantes da cidade e exigem gastos com transporte. O governo estimula a prática de esportes ao ar livre, mas com um aparato técnico que obriga as pessoas a gastar dinheiro, pois, ao estar em contato direto com a natureza, não há consumo suficiente. Assim, o incentivo ao esporte ao ar livre é, na verdade, uma forma de manter o consumo e a economia ativa.
Bernard, um Alfa insatisfeito com sua posição, ganha uma semana de férias com Lenina na reserva selvagem, um lugar onde ainda existem aspectos do mundo antigo, como religião e pobreza. Lá, eles encontram Linda, uma mulher do mundo avançado, e seu filho John, que cresceu na reserva sem conhecer a civilização. Bernard vê a oportunidade de exibir Linda e John como curiosidades na sociedade avançada.
O livro, escrito em 1932, é visionário e oferece uma crítica profunda à conformidade social e à perda da individualidade. A leitura pode ser densa e o excesso de citações de Shakespeare pode causar confusão, especialmente na tradução. A obra explora temas complexos e levanta questões sobre controle social e liberdade, fazendo paralelos com o mundo atual, como o uso das redes sociais e o entretenimento como distração.
O final de John é desolador. É o ápice da toxicidade desse sistema, refletindo a impossibilidade de escapar ou transformar um sistema tão profundamente enraizado e controlado.