spoiler visualizarGabriela 24/10/2022
Icônico e niilista
O que me surpreendeu no romance, é que a narração não contém um pingo de incentivo à revolta. A estória parece ser contada por alguém que conhece a civilização de Ford como a palma de sua mão, conhece os selvagens, entende o absurdo de tudo e não emite um só juízo de valor.
Em paralelo, na mesma direção, acabei não torcendo para nenhuma personagem. Bernard começou como um pseudo-herói, alguém por quem torci obviamente para que causasse uma fatídica disruptura em toda aquela realidade robótica. Com o passar das páginas, ele foi se mostrando cada vez mais covarde, patético, carente?enfim, humano. Lenina pareceu ter alguns pontos que a diferenciava da massa, mas era medrosa demais pra desenvolê-los.
O selvagem, por fim, trouxe a poesia, a curiosidade, a afronta? um respiro na máquina pública sufocada, respirando literalmente com ajuda de aparelhos. Contudo, quando chegou próximo ao clímax revolucionário, que - para o leitor - é nada mais, nada menos do que voltar ao nosso status quo, nos deixando livres pra sofrer e viver com menor controle das coisas, percebemos nossas falhas. Autoflagelação, depressão, misoginia, culpa religiosa, puritanismo.
Resultado: sensação de que o ser humano é insuportável. Em todos os formatos de civilização. Livraço! ?