ssam 06/10/2024
Lá vem uma resenha longa...
Admirável Mundo Novo, apesar de ser "mais um" romance distópico, é uma leitura bastante singular.
Aldous Huxley retrata uma sociedade onde os humanos não são mais fecundados (isso, inclusive, se tornou um ultraje), mas sim produzidos em massa em espécies de indústrias. É uma sociedade onde o capitalismo e a ciência são levados ao extremo, não existe mais velhice ou doenças e tudo é feito pensando no lucro e, principalmente, na estabilidade da sociedade.
Cada humano que é fertilizado tem sua casta pré-definida, com Épsilon Menos sendo a mais baixa (se não estou enganada) e Alfa Mais a mais alta, definindo a função de cada um na sociedade. A ciência está tão avançada que agora existem métodos de condicionar as pessoas desde pequenas a pensarem e agirem como cidadãos úteis e estáveis pra civilização, processo que é feito pelos "Controladores" da sociedade.
Dessa forma, se você é um Épsilon, por exemplo, você além de ser fertilizado com menos oxigênio no cérebro, é condicionado desde cedo com experiências negativas controladas em relação a livros ou qualquer coisa que estimule sua intelectualidade, e com experiências positivas em relação a simples trabalhos mecânicos. Analogamente, você vai ser condicionado a escutar por diversos anos durante o sono que ser um Alfa Mais é péssimo e que ser um Épsilon é o que realmente vale a pena (obviamente, se você fosse um Alfa Mais, tudo isso seria ao contrário).
Além disso, a estabilidade social depende de que ninguém se sinta insatisfeito (afinal é isso que gera rebeliões e revoluções, certo?). Portanto todos são estimulados a se distraírem com liberdade sexual exacerbada e uma droga chamada "Soma", que é distribuída para população tomar caso eles sintam qualquer sinal de tristeza, pois ela gera felicidade instantânea e uma espécie de "férias" temporária, evitando que qualquer um se sinta insatisfeito (coisa que o governo olha de perto)
Uma sociedade estável onde ninguém se sente infeliz com sua posição social (e nem com nada) parece, a princípio, algo incrível, mas o resultado de tudo isso é uma sociedade EXTREMAMENTE alienada e sem liberdade alguma, escravizada por prazeres instantâneos. Além disso, o fato de que todos são apenas engrenagens em um sistema não é escondido de ninguém, muito pelo contrário, o governo deixa isso bem claro e ninguém sequer questiona, afinal, eles são condicionados a tratarem isso como um aspecto positivo.
No entanto, o que aconteceria se, mesmo apesar desse controle todo, de abolirem arte, música e qualquer coisa que faça as pessoas pensarem por si próprias, um Selvagem, alguém que estava isolado por ainda ser da antiga civilização (a que vivemos) fosse trazido a esse "Admirável Mundo Novo"?
Bom, confesso que em alguns momentos se torna uma leitura beeem arrastada, mas no fim vale a pena.
Huxley faz uma crítica dura e atemporal a radicalização da ciência (afinal, ele viveu no período das Grandes Guerras, onde todos achavam que a ciência iria resolver todos os problemas da população, mas, nas mãos erradas, ela culminou em bombas nucleares) e de como somos tão facilmente manipulados e alienados sem perceber, apenas partes insignificantes de um sistema sem sequer perceber nossa falta de livre arbítrio e a quantidade de coisas a que somos condicionados a aceitar. Leva muito a pensar sobre hoje em dia e se de fato as redes sociais seriam o "soma" da sociedade atual.