Geraldo.Junior 12/09/2024
Admirável Mundo...Novo?
Uma sociedade futurista é edificada pelo progressismo excessivo e administrada por um governo que elimina tudo aquilo que ameaça a estabilidade. Esse é o Mundo, que apesar de Admirável pelos seus titeriteiros, não parece tão Novo.
Comunidade, identidade e estabilidade!
A obra de Aldous Huxley, assim como a de seus "irmãos" que compõem a trindade distópica clássica (1984, de George Orwell e Nós, de Yevgeny Zamyatin) é, além de uma história bem contada, um exercício único que nos faz refletir sobre a distopia criada para o livro e a nossa própria existência. A narrativa se apoia sobre três personagens, os quais apelidei de: O Assassino, o Catalisador e o Estrangeiro.
1. O Assassino: O governo autoritário apresentado na obra é como uma máquina: um produto construído por seus líderes com o objetivo de ser eterno, admirável e implacável. O sistema usurpa a vida das pessoas antes mesmo de seu nascimento; afinal as pessoas não têm parentesco com ninguém. São todos filhos de uma fábrica onde é realizada uma fertilização in vitro em massa. É nesse momento que se decide a qual casta cada um pertencerá, que trabalho exercerá, bem como seu comportamento. Logo, um destino totalmente planejado não poderá ameaçar a estabilidade.
A máquina chamada Admirável Mundo Novo é um mecanismo criado para funcionar para sempre, e, para isso, precisa das engrenagens que garantam vida longa ao aparelho: As tecnologias de informação. A eterna propaganda sobre como agir e o que pensar é inserida na mente de seus habitantes através do que é chamado de "hipnopedia", uma extensa coleção de textos e opiniões gravadas que são ouvidas inúmeras vezes durante o sono.
"Uma mentira dita mil vezes torna-se verdade" frase atribuída a Joseph Goebbels, ministro da Propaganda na Alemanha Nazista.
Além de traçar o destino, controlar o aprendizado e definir o comportamento da população, o Estado global ainda incentiva o consumo de SOMA, um medicamento amplamente distribuído que simula um estado de felicidade momentânea, conforme a dose ingerida.
2. O Catalisador: Bernard Marx é o primeiro personagem diferente apresentado na obra, aparentemente resultado de um pequeno erro na quantidade de álcool inserida em seu pseudo-sangue. Esse "defeito" age como um boato que percorre o círculo de interação de Marx e o condena através de sussurros e julgamentos. Acompanhar a jornada de Bernard é ser colocado no meio de suas relações interpessoais, opiniões e comportamentos que, na maioria das vezes, estão em conflito com o Sistema. Ao analisar Bernard, é inevitável medir o quanto os objetivos desse indivíduo podem, ou não, estar alinhados com os do Assassino.
3. O Estrangeiro: Por fim temos o terceiro e talvez mais importante elemento da obra, que parece ser o verdadeiro protagonista desta história: o que vem de fora.
O Selvagem, assim como o momento em que é apresentado e a forma como é construído revela muito sobre o universo de Huxley. Ele usa esse personagem estrangeiro, novato e inocente para criar um espelho com a nossa realidade. É através do Selvagem que conseguimos enfim imaginar o que seria de nós no Admirável Mundo Novo.
Por fim, acredito ser impossível não levar a obra e todas as suas reflexões para além da leitura. O Admirável Mundo Novo é o tipo de conteúdo que transcende seu tempo e espaço, lançando um alerta para o futuro, em direção àqueles que encontrarão, em suas poucas mas geniais páginas, perguntas que podem salvar nossa realidade do controle e da manipulação completa.
Para complementar a minha interpretação da obra, deixo o link para uma entrevista muito importante feita em 1958, onde Mike Wallace discute o futuro da civilização junto do autor da obra, Aldous Huxley.
site: https://youtu.be/3tS1xEeiuYw