O premiado Longe como o meu querer (Prêmio Latino-americano Norma-Fundalectura/1996 e o selo Altamente Recomendável para o Jovem, FNLIJ/1997) é daqueles que enredam seu leitor. É daqueles que não só asseguram toda sua leitura como inúmeras releituras.
São 24 contos. Cada qual mais bem escrito, mais bem sintonizado com a proposta de Colasanti, que é o da magia, do espaço reservado aos seres encantados, do tempo mítico, em que tudo é possível, porque é garantido pela imaginação. E mais: ilustrados pela própria autora, cujo traço remete ao tão conhecido, mas sempre revisitado Era uma vez....
Nestes contos desfilam reis, princesas, príncipes, seres encantados, que à maneira dos clássicos contos de fadas, nos remetem as nossas tristezas, nossos sonhos, nossa condição. Querendo ou não, com eles o leitor chega mais perto de si: se descobre, se trabalha, se vê encantado como muito dos personagens desse mundo em que tudo pode acontecer.
Dentre eles, vale destacar, por exemplo, O moço que não tinha nome. Por não ter nome, também não tinha rosto. Com dificuldades para lidar com tamanha ausência, sai o moço pelo mundo em busca de sua identidade, em busca do preenchimento de suas carências, repetindo a trajetória de tantos heróis das nossas conhecidas e inúmeras histórias de iniciação. Só que à luz de um novo tempo. É apenas no cultivar o contato com o outro, no descobrir-se, descobrindo o outro, na troca diária com quem possa preenchê-lo, que o moço encontra seu rosto. E, com ele, ou em função dele – claro – recebe um nome: "Amado".
Ou, ainda, em Com sua voz de mulher, último conto do livro, que fala do contar histórias, cujo poder, embora divino, se concretiza quando Deus empresta da mulher a sua pele e sua voz. Conto bonito! Como aliás, todos os seus parceiros, que com suas histórias também nos falam, por outras vias, deste mesmo poder.
Para quem quiser saber um pouco mais a respeito da autora, o livro traz, no final, uma entrevista com Marina e uma relação de toda sua produção.