Os mangás, ou histórias em quadrinhos, fazem parte do cotidiano da sociedade japonesa como em nenhum outra parte do mundo. A popularidade dos mangás e a indústria bilionária que em torno deles se movimenta ajudou no desenvolvimento de uma arte requintada e complexa, que começa a conquistar também o Ocidente.
A antropóloga Sonia Luyten diz que o mangá tem função catalisadora numa sociedade altamente competitiva como o Japão. Por isto os personagens dos quadrinhos japoneses estabelecem modelos femininos (kauai) e masculinos (agressivo) bem definidos, emulando arquétipos da era medieval, como a gueixa e o samurai. Os olhos enormes das heroínas de mangá, ao contrário do que eu pensava, não é sinal de ocidentalização. O criador dos estereótipos femininos, Tezuka Ossamu (Osamu Tezuka) baseou-se na maquiagem dos olhos de dançarinas de teatro de revista dos anos 20, em Osaka.
Ao fim da leitura, a sensação de que o Japão é um país de autômatos. Todos cumprem seus papéis: homens, mulheres, crianças, para manter o sistema de produção acelerada em funcionamento. Os mangás exploram fantasias sobrenaturais (poderes mágicos) nas tramas infantis, românticas nas femininas e com sexo e violência nas masculinas. As fantasias servem como fuga para as pressões cotidianas, com relações hierarquizadas e zelo extremo pela disciplina social, com total sufocamento da individualidade de cada japonês.