Nos 27 metros quadrados do apartamento onde se passa a narrativa, o mar parecia remoto e a angústia de estar longe da praia para o protagonista da trama só não é maior que a angústia de vê-lo se afogar no maremoto de medos, obsessões e neuroses que invadem sua casa.
Diante do caos interno que se instala nele pelo caos instalado no mundo, nos assusta perceber a quantidade de vezes em que nos identificamos com a trama. Você se questiona se a ficção traz muitos aspectos da realidade ou se a realidade é que está muito parecida com uma ficção. E se alguém não se identificar com absolutamente nada neste livro, é assustador que uma pessoa tenha sido atravessada pela realidade distópica da pandemia alheia a tudo isso.
Embora o livro não seja autobiográfico, o autor alagoano Eduardo Leite escreveu a narrativa durante os meses que passou em total isolamento, saindo de seu apartamento apenas para tirar o lixo, numa espécie de laboratório da vida real, imposto pela pandemia. Maremoto coloca-nos diante da fragilidade humana e nos faz perceber como rapidamente podemos sucumbir emocionalmente, diante da falta de controle sobre a vida.
Rhamayana Barreto, jornalista
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Maremoto conta a história de um rapaz gay que se muda de uma cidade pequena onde se sente sufocado para morar em uma kitnet em uma grande metrópole que fica a dez horas de ônibus de sua cidade natal. Tentando fugir das limitações físicas e psicológicas de uma cidade pequena, ele se vê trancado em um apartamento de 27m² durante meses por conta de uma doença que tomou conta da cidade (e do país) logo depois de sua mudança. Escrito durante a pandemia de Covid-19, Maremoto é um romance ficcional, porém qualquer semelhança com a realidade não é apenas coincidência.
LGBT / GLS / Literatura Brasileira