"A questão é brutal. Porque são considerados os homens superiores em todas as sociedades de todos os tempos? A resposta que nos dá Françoise Héritier, nesta sua obra, é assombrosa. Primeiro recorda que o matriarcado - tão chorado e desejado pelas feministas - mais não é que um mito, uma lenda inventada pelos próprios homens a fim de legitimarem o seu poder. O masculino sempre levou a melhor sobre o feminino; uma desigualdade existente na base de toda a sociedade humana. Uma desigualdade necessária, já que, independentemente do facto de organizar o mundo, vai fundamentar o nosso pensamento: "o ser humano procurou dar um sentido a tudo o que o rodeia. Constata que tudo funciona sobre oposições fundamentais ancoradas na natureza: o Sol e a Lua, a direita e a esquerda, o seco e o húmido, o quente e o frio, o masculino e o feminino, o idêntico e o diferente." Estas estruturas do mundo conceptual são hierarquizadas pelo homem que procura corrigir a instabilidade fundamental da natureza criando equilíbrios. Assim, do lado masculino coloca o alto, o quente, a direita, o húmido, etc. Pelo lado feminino classifica o baixo, a esquerda, o frio, o seco. A autora explica então: "rapidamente a mulher será considerada como um ser passivo, porque perde o seu sangue, sem o pretender, enquanto o homem faz correr sangue lutando, portanto querendo."