Ao definir a geografia como uma “filosofia das técnicas”, Milton Santos desenvolveu para essa disciplina uma teoria social que a transcende. Das ciências sociais e humanas às artes e saúde pública, a pertinência de seus ensinamentos comprovou-se pela larga utilização. A geografia, inclusive, como teoria e como método, elevou-se a pensamento libertário motivador de movimentos sociais.
Esse processo de reflexão evoluiu por mais de três décadas. Pode-se dizer, porém, que se instaurou em 1978, com a publicação de Por uma Geografia Nova, e culminou em 1996, com a de A Natureza do Espaço. Nesse ínterim, Milton Santos publicou uma série de textos e consolidou sua obra como uma das mais respeitáveis do pensamento geográfico contemporâneo.
Metamorfoses do Espaço Habitado é um desses textos. De forma clara e irredutível, não circunstancia apenas necessidade de renovação do objeto geográfico. Qualifica também as transformações radicais do processo espacial em curso, resumindo-as numa palavra: metaforfoses.
A concisão no trato com os conceitos é outra marca. As categorias fundamentais para o estudo do fenômeno espacial aparecem especialmente distinguidas. É perceptível o estágio de fundamentação, síntese de ideias e de associações amplificadas depois em outros livros, por exemplo, as tendências do uso do território e os efeitos da globalização na formação espacial.
Neste livro há ainda uma singularidade quanto à sua obra. Está no capítulo “Da Teoria à Prática: Um Modelo Propositivo”. Trata-se de um verdadeiro “esquema de ideias”, como Milton Santos dizia. Ele se mostra um pesquisador diligente à aplicabilidade do conhecimento geográfico à coisas do fazer científico e do homem comum. Convida-os a análises críticas, mas também que sejam propositivas. Da reflexão à prospecção, revela o papel vital que a geografia poderá desempenhar no desenho político de outro projeto nacional.
MANOEL LEMES DA SILVA NETO
Professor do Programa de pós-graduação em Urbanismo da Pontifícia Católica Universidade Católica de Campinas.
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