O objetivo principal dos estudos de Michel Foucault, nos anos 1960, foi investigar as condições histórico-filosóficas de existência das ciências do homem, situando-as em relação a outros saberes da modernidade. Nos anos 1970 — época dos textos desta coletânea — seu interesse foi complementar essa arqueologia, como chamou, com uma genealogia do
poder que explicasse o aparecimento dos saberes sobre o homem como elementos de um dispositivo de natureza política, como peças de relações de poder. Microfísica do poder é uma coletânea de artigos, cursos, entrevistas e debates, em que Foucault analisa questões relacionadas à medicina, à psiquiatria, à geografia, à economia, mas também ao hospital, à prisão, à justiça, ao Estado, ao papel do intelectual, à sexualidade etc. Esses textos têm como tema central o poder nas sociedades modernas: sua configuração, sua difusão no corpo social, seu exercício em instituições, sua relação com a produção da verdade, as resistências que suscita. Além disso, eles explicitam o método genealógico
elaborado por Foucault para analisar como e por que os saberes se constituem a partir de práticas políticas e econômicas.
Há três novidades principais nos textos desta coletânea: primeiro, rejeitar a identificação entre poder e aparelho
de Estado, dando importância à rede de poderes moleculares que se expande por toda a sociedade; segundo, caracterizar o poder não apenas como repressivo, mas também como disciplinar, normalizador; terceiro, analisar o saber como peça de um dispositivo político que o produz e é intensificado por ele.
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