Inédito em português, Mitologia dos índios Chulupi é fruto de um trabalho de campo realizado por Pierre Clastres no Chaco paraguaio em 1966, durante o qual recolheu um precioso conjunto de 73 mitos. Quando faleceu precocemente, em 1977, o autor já havia dado uma das mais relevantes contribuições à antropologia, deixando artigos a serem reunidos e investigações por desenvolver. Este livro, que permaneceu inacabado, ganhou forma graças a Hélène Clastres e Michel Cartry, que buscaram organizar essa mitologia de forma peculiar, “deixando a elaboração nascer da própria matéria”, como o próprio Clastres o teria feito.
Além dos mitos, a obra reúne uma descrição geográfica do Gran Chaco , de inegável valor documental e literário, documentos etnográficos produzidos em campo, narrativas de guerra dos Chulupi e uma belíssima homenagem a Alfred Métraux, pioneiro da moderna antropologia ameríndia. O volume inclui ainda um posfácio de Beatriz Perrone-Moisés, escrito especialmente para esta edição.
Os Chulupi ― ou Nivaclé (os humanos), como se denominam ―, formam hoje uma população com cerca de 14 mil pessoas, vivendo entre o Paraguai e a Argentina na mesma geografia de rudes contrastes climáticos em que Clastres a encontrou, onde a sobrevivência depende de uma profunda interação com o mundo natural. Essa sociedade marcada por um ethos guerreiro é aqui retratada numa profusão de histórias, por vezes bem-humoradas e quase sempre protagonizadas por animais, revelando a um só tempo seu modo de se relacionar com o cosmos e de se imaginar dentro dele.
Sociologia