A autora deste livro domina a novela, gênero médio de ficção, com maestria. Filia-se à linha checoviana de enredo aberto, livre, sempre essencial.
Os exemplos estão aqui e em várias outras obras dela. As histórias neste livro fluem com uma naturalidade tocante, abordem temas de maior dramaticidade ou não. É de uma sobriedade que enriquece a sua própria linguagem literária, personalíssima.
Se os dramas são assim humaníssimos, as tramas que os tecem fluem sem falsos brilhos ou sustos, e o leitor sente-se presente e quase participante deles.
Claro que há histórias mais pulsantes que outras; claro que se palpita mais com umas do que com outras; claro, porém, que é assim o jogo da Vida, e a autora o retrata tal como ele é.
Sua geografia é muito ampla. Seja o tema interiorano ou citadino, em qualquer região geográfica, a riqueza criadora dela não se desnivela. Há uma predileção natural pelos ambientes rurais, projeção da sua longa vivência no meio. No ambiente urbano, onde também muito viveu e conhece, há uma floração e amostragem de verde nas paisagens, dando-lhes, levada pelo inconsciente criador, uma certa sombra ecológica, espiritualizando-o. Joga com as emoções através dos diálogos, vivos, oportunos, não se valendo nunca de apelos linguísticos fora do coloquial e familiar. Escritora voltada para a classe média, nunca desborda para o regionalismo estreito e superado.
Aqui caminha a autora, da paisagem de festa alegre e jovial, no texto que abre o livro, para a aflição de drama no segundo, ao choque de emoções no terceiro, ambientado no Pantanal Mato-grossense.
Não há como citar, um por um, cada texto, com suas felicidades e tristezas próprias. Mas nos deteremos, em particular, na longa novela "Jornada sem volta", onde avulta pulsação de pena e dor no seu final, em andamento e decantação de quase perplexidade. A descrição da doença de personagem muito importante na história cala fundo em qualquer leitor.
E o notável é que, nem por isso, a escritora desborda para apelações aflitivas. Seu impulso narrativo e criador é o mesmo, com aquela leveza e sutileza bem dela. Com isso, o amplo drama familiar, que se afunila com a doença, dói muito mais.
Por tais méritos, valendo-se desta variedade criadora, lírica, humana, realista, impressionista, numa sucessão de paisagens geográficas e de almas, Lucília Junqueira de Almeida Prado emblematiza e eterniza os universos de suas criações, nascidos de uma sensibilidade quase epidérmica, de uma vida vivida, resgatada e transfigurada em arte escrita.
No Verão, o Mundo é Nosso, é o título do livro. Mas este mundo também é do leitor. Podem crer.
(Por Caio Porfírio Carneiro)
Contos