O livro Notícias de lugar nenhum é um romance utópico. Propõe uma visão imaginária da Inglaterra no ano 2102, após a revolução socialista. […] O título é, sem dúvida, uma homenagem a Thomas More e seu célebre livro Utopia, de 1518 – que significa, em grego, “lugar nenhum” –, que apresenta uma ilha cujos habitantes haviam estabelecido uma sociedade de tipo comunista. Mas, enquanto a utopia de Thomas More e de muitos socialistas utópicos do século XIX […] situam a comunidade harmoniosa num outro espaço, em Morris é o eixo temporal que predomina: o Nowhere é algo que não existe em “lugar nenhum” ainda, mas que existirá, talvez, no futuro. O princípio motor de Morris é o Princípio Esperança e o sonho acordado daquilo que ainda-não-existe (Noch-nicht-sein), de que fala Ernst Bloch. […]
O romantismo de Morris é um protesto contra a civilização capitalista/industrial moderna, em nome de valores culturais ou sociais pré-capitalistas, uma revolta contra a reificação, a quantificação e o desencanto do mundo produzido pela lógica implacável da mercadoria e do lucro. […] Esse romantismo se manifesta na busca de uma vida social em harmonia com a natureza, como nas formas comunitárias do passado. […]
Outro debate interessante é sobre as liberdades individuais na nova coletividade. […] Um dos aspectos mais profundamente modernos do livro são os seus valores: liberdade, igualdade, fraternidade, democracia, solidariedade. […]
O autor de Notícias de lugar nenhum aprendeu a lição comum a Marx e aos anarquistas: a utopia não pode se realizar abandonando a sociedade corrupta para experimentar uma vida harmoniosa em suas margens. O desafio é transformar a própria sociedade, graças a uma ação coletiva das classes oprimidas. Em outras palavras: William Morris é um utopista revolucionário e um marxista libertário. (Michael Löwy e Leandro Konder)
Romance