Por que o Espiritismo praticamente desapareceu na França e se expandiu tanto no Brasil?
Por que, sendo um movimento que teve tanta repercussão em sua época e nas décadas seguintes, é sistematicamente ignorado pela historiografia contemporânea?
Por que o Espiritismo não é citado nem reconhecido como um dos capítulos mais críticos da história do Cristianismo?
Por que há tantas diferenças de concepção doutrinária e múltiplas tendências no Movimento Espírita?
Quais são as raízes ideológicas do Espiritismo e por que a doutrina ainda sofre tantas resistências no seu aspecto moral, inclusive entre os espíritas?
Que nomes e idéias são verdadeiramente significativos e inovadores na História do Movimento Espírita?
Discutir e tentar responder essas perguntas são os principais objetivos deste livro, não economizando para tanto, argumentos, fatos e uma vasta documentação histórica.
Desde 1926, com a publicação do clássico The History of Spiritualism, de Sir Artur Conan Doyle, não tínhamos um relato tão amplo e atualizado sobre os eventos históricos do Espiritismo e das intensas transformações ocorridas no Movimento Espírita após o desencarne de Allan Kardec, em 1869. Mesmo assim, não só a comunidade espírita e espiritualista internacional, mas também o universo acadêmico das ciências humanas, reclamavam a falta de um trabalho que fosse ao mesmo tempo abrangente e síntese historiográfica, preenchendo o enorme vácuo deixado pelo célebre escritor inglês.
Como o próprio autor afirma em sua introdução, este estudo está longe de ser a obra definitiva sobre o assunto, mas certamente é, até agora, a continuidade de uma construção histórica e uma boa oportunidade para compreendermos o passado, o presente e o futuro do Espiritismo.
“(...) Tendo que se destacar o Espiritismo nos fatos da humanidade, será interessante para as gerações futuras saber porque meios ter-se-á ele se estabelecido. Será, pois, a história das peripécias que tiverem assinalado os seus primeiros passos; das lutas que tiver enfrentado; dos entraves que lhe terão oposto; de sua marcha progressiva no mundo inteiro. O verdadeiro mérito é modesto e não busca fazer-se valer. É preciso que a humanidade conheça os nomes dos primeiros pioneiros da obra, daqueles cuja abnegação e devotamento merecerão ser inscritos em seus anais; das cidades que marcharam na vanguarda; dos que sofreram pela causa, a fim de que os abençoem; e dos que fizeram sofrer, a fim de que orem, para que sejam perdoados; numa palavra, de seus amigos dedicados e de seus inimigos confessos ou ocultos. É preciso que a intriga e a ambição não usurpem o lugar que lhes pertence, nem um reconhecimento e uma honra que lhes não são devidos. Se há Judas, devem ser desmascarados. Uma parte que não será menos importante é a das revelações que, seguidamente, anunciaram todas as fases dessa nova era e os acontecimentos de toda a ordem, que as acompanharam.
(...) Quando aparecerá ela? Não será tão cedo e talvez não em nossa encarnação, pois não se destina a satisfazer a curiosidade do momento. Se dela falamos por antecipação, é para que ninguém se equivoque quanto ao seu objetivo e seja anotada a nossa intenção. Aliás, o Espiritismo está em começo e muitas outras coisas terão passado até lá. Então, é preciso esperar que cada um tenha tomado o seu lugar, certo ou errado.”