O Abismo Invertido

O Abismo Invertido Adriano Schwartz


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O Abismo Invertido


Pessoa, Borges e a Inquietude do romance em "O Ano da Morte de Ricardo Reis", de José Saramago




Desde o objeto, um escritor contemporâneo, até a abordagem criativa, nada no estudo de Adriano Schwartz é banal. Procurando compreender "O Ano da Morte de Ricardo Reis", o crítico mergulha no universo do escritor português José Saramago para identificar traços, investigar formas e estabelecer relações. Além de uma crítica iluminadora, o livro, envolvente, é um grande jogo de charada, resolvida apenas nos últimos parágrafos.
O Abismo Invertido originou-se da tese de doutoramento de Adriano Schwartz, defendida na Universidade de São Paulo em meados de 2003. No entanto, desde o início o livro foge do convencional. O primeiro capítulo compõe-se de um diálogo, construído à maneira de Saramago, em que diversos estudiosos da forma romanesca debatem, enquanto o leitor tem a oportunidade de acompanhar o desenvolvimento das idéias que pautaram as principais teorias do romance, uma das formas literárias mais importantes para a literatura ocidental. Entre as personagens habilmente escolhidas por Adriano Schwartz podemos encontrar desde Aristóteles até Walter Benjamim. Aliás, o próprio Saramago termina colaborando com o diálogo, fornecendo algumas de suas opiniões sobre a arte romanesca. O livro prossegue, já no segundo capítulo, procurando entender algumas questões básicas para a compreensão do universo literário do autor português. Seu narrador, sobretudo, ocupa um lugar central de análise, cujo foco reside na percepção de que há certa "mistura de pessoas": um narrador de terceira assume papéis de primeira pessoa. Nesse momento, também, Adriano Schwartz mostra como os estudiosos com muita frequencia se deixaram contaminar pela opinião que o próprio Saramago tem a respeito de seu texto. Depois, o estudo abre espaço para a análise de alguns trechos centrais na construção da trama de O Ano da Morte de Ricardo Reis. Aos poucos, Schwartz vai demonstrando como, através de inversões e deslocamentos, o texto se constrói como um jogo -de regras incertas, é verdade. Entre as tantas observações, o autor nota argutamente que as personagens do romance são, quase sempre, produtoras de pequenas mentiras, uma das muitas formas de ficção presentes na narrativa. No final, o livro chega a adquirir ares de "romance policial": através da decodificação de citações, que passam por Camões e Fernando Pessoa para culminar, surpreendentemente, em Borges e em um certo jogo de xadrez, Adriano Schwartz mostra como Saramago poderia, de fato, estar equivocado e como tudo estava mesmo invertido. O prefácio do crítico Alcir Pécora, por sua vez, mergulha nos procedimentos adotados por Adriano Schwartz para estruturar sua análise e, mais, observar como O Abismo Invertido coloca-se como inovador na fortuna crítica de José Saramago.

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