Antes mesmo da pandemia do novo coronavírus assolar o mundo, a temperatura subiu em terras latino-americanas já bastante calientes: países considerados estáveis como o Chile, ou prósperos, como a Bolívia, foram cenário de inflamadas manifestações contra seus governos. O fogo e o povo nas ruas deixaram claro o que não estava nas manchetes internacionais: na mesma medida em que se abria a economia e o IDH crescia, aumentava também a desigualdade, direitos eram perdidos, moedas se desvalorizaram. Tudo tem um preço. E na América Latina ele foi pago com a vida de muitos, que não puderam reagir diante de sistemas de saúde precários e governos negacionistas, incompetentes ou corruptos.
Não bastaram a tensão política e os protestos, a Covid-19 mais uma vez nos lembrou da dependência e miséria latino-americanas. Em O ano da cólera, a correspondente da Folha de S.Paulo Sylvia Colombo oferece ao leitor um panorama do que aconteceu em cinco países da América Latina antes e durante a pandemia, nos raivosos e doentes anos de 2019 e 2020. Protestos e tensões no Chile, na Bolívia, Venezuela, Argentina e no Uruguai foram tanto a manifestação de uma insatisfação coletiva quanto um presságio macabro de tempos de confinamento e mortes.
Sem deixar de fora as particularidades de cada país, a jornalista leva o leitor por um aprazível passeio pela história e seus personagens. De um lado, governantes, ditadores, militares, liberais, populistas, amados e odiados; do outro, o povo, e a certeza de que a América Latina segue pulsante e complexa.
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