Bebendo tanto nas vanguardas literárias como na cultura pop contemporânea, o russo Vladímir Sorókin é um dos escritores mais originais da atualidade. Após ter seus livros incendiados em praça pública, em Moscou, por partidários do governo, ele publicou em 2006 o romance O dia de um oprítchnik, uma espécie de Um dia na vida de Ivan Deníssovitch às avessas, pois, ao contrário de Soljenítsin, Sorókin conta sua história do ponto de vista do carrasco.
Neste livro passamos um dia em companhia de Andrei Komiága, membro graduado da Oprítchnina — a violenta guarda de elite do tsar Ivã, o Terrível —, recriada por Sorókin no ano de 2027, em uma Rússia ao mesmo tempo soviética, medieval e futurista. Em meio a execuções sumárias, negociações de suborno e orgias regadas a drogas, narradas em primeira pessoa pelo miliciano, vamos conhecendo as particularidades dessa realidade distópica, estranhamente parecida com a realidade atual, que inclui a construção de uma gigantesca muralha isolando o país da Europa (porém mantendo o fornecimento de gás), a dependência crescente da tecnologia chinesa e a vigilância constante e intimidadora de um líder autocrata, cruel e moralista. Com verve excepcional e uma imaginação sem limites, Sorókin construiu uma narrativa ágil e enxuta, na qual cada detalhe vale por um verdadeiro mergulho na cultura russa.
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