Em certos momentos, algumas cidades tornam-se mágicas. Passam os anos, aquele tempo e aquele lugar transformam-se em terrenos de sonhos, em que acontecem as lendas.
Brasília, nos anos 1980, foi algo assim. Subitamente, como do nada, a cidade parecia ter resolvido mudar de vida, ao mesmo tempo em que o país decidia ser democrático, decidia ser livre.
Esse tempo de mudança eletrificou todo o Brasil em torno de sua capital. Sim, as bandas tão famosas foram o sinal visível do espírito da época.
Plebe Rude, Capital Inicial, Paralamas do Sucesso e, é claro, Legião Urbana.
Mas houve mais, outros grupos, outros acontecimentos, mais: uma mundo, uma legião de fato, do qual tudo isso surgiu A Turma.
Este é o assunto de DIÁRIO DA TURMA. A ideia de montar uma banda, os primeiros shows, os jovens que se tornaram astros do rock e outros que partiram para outras.
E fala também das conversas, dos bares, do tédio de Brasília, dos namoros, das brigas.
Enfim, mais que um livro sobre a música, este é um retrato da juventude de uma Brasília dos anos 1980.
Dinho do Capital Inicial fez o seguinte prefácio do livro:
"Todo mundo acha que a sua adolescência foi especial. Todo mundo acha que mais ninguém vai entender a intensidade do que aconteceu. Parte da graça está aí: um entusiasmo impossível de traduzir em palavras. É hora de ação, não de se preocupar em entender ou explicar. Isso fica pra depois. Bem depois. O ideal é esperar alguns anos, olhar pra trás e, com a isenção do tempo, fazer um balanço.
É lógico que isso é uma missão quase impossível. Como não cair numa tentação nostálgica? 'Ah, meus anos dourados...' ou algo assim?
Paulo Marchetti responde a esta pergunta, condensando as aventuras de seus amigos. Se todas as adolescências são iguais, às vezes calha de numa só turma todos resolverem, de algum modo, ser artistas. Às vezes calha de o país estar vivendo simultaneamente uma profunda transformação política. O sentido de urgência da juventude, às vezes, parece conduzir o país.
Todos queremos mudar o mundo, e em alguns momentos achamos que realmente dali em diante tudo será diferente.
No final, o país pode não ter mudado muito. No final, era só a adolescência de mais uma turma. Mas não duvide: ao menos esse povo sabia se divertir."
Dinho Ouro Preto, Capital Inicial, maio de 2001.