O discernimento

Discernimento, na linguagem corrente é a capacidade de compreender situações complexas e de avaliar com bom senso e clareza as atitudes mais convenientes a serem tomadas, à luz da sabedoria, da justiça, da equidade e da solidariedade. Na linguagem espiritual, de acordo com a tradição bíblica e cristã, o discernimento é a arte de perceber o que vem de Deus e qual o caminho a seguir para estar de acordo com sua Palavra e agir segundo o seu Espírito.

A obra de Marko Ivan Rupnik é uma extraordinária tentativa de síntese bem sucedida entre essas duas tradições cristãs, a oriental e a ocidental que, ao mesmo tempo, responde de maneira original e profunda a sede de espiritualidade que caracteriza hoje um número crescente de pessoas, cristãs ou não, e oferece um roteiro prático e profundo para que se descubra no fundo do coração e em comunidade, como ir correspondendo através da vida à nossa vocação profunda à comunhão com Deus e à paz interior e exterior, que é também o caminho da felicidade.

Em uma primeira parte mostra o que entende por discernimento: a arte de corresponder à sede autêntica de amor e de felicidade que anima o coração de todos os humanos. Mostra, em seguida, os passos a serem dados e a forma de avaliá-los de maneira concreta e efetiva, na vida de todo dia. Na segunda parte, assumindo que permanecer em Cristo é a forma de ser fiel a Deus, no seu Espírito, trata com sabedoria do velho tema do combate espiritual e leva-nos a refletir de maneira prática tanto sobre nossa autenticidade no seguimento de Jesus como sobre a forma de compartilhar a vida espiritual na comunidade, clima indispensável ao crescimento na vida espiritual.

Dentre os muitos méritos da obra, destacar-se-iam duas de suas qualidades. Primeiro, o fato de ter conseguido uma síntese entre a perspectiva ocidental, de que o grande mestre do discernimento é santo Inácio de Loyola, cujos ensinamentos estruturam grande parte do livro, e a perspectiva oriental, com base nos ensinamentos da Filocália, de Macário, de Cassiano e de Máximo, o Confessor, em uma palavra, da tradição espiritual do Oriente.