"Space On My Hands", 1951. Capa: Lima de Freitas '-' Fredric Brown não é um desconhecido. Autor de livros policiais e de ficção-científica, o leitor teve já certamente a oportunidade de ler na Colecção Vampiro, do editorial Livros do Brasil, entre os livros dele publicados, esse belo exemplo das suas capacidades de ficcionista e que se intitulava O Prazer de Matar, número 137 da citada colecção. O próximo volume da Colecção Argonauta, é uma colectânea de contos deste autor, em que as suas vastas capacidades nos dois campos se reúnem para provocar redobrado prazer ao leitor. Imagine-se um jogador de dados misturando no copo estrelas, cometas, nebulosas e planetas, agitando bem os ingredientes, misturando-os e, num gesto rápido mas brilhante, espalhá-los sobre um pano verde, exclamando: "Eis um novo Universo!
"Porque é esse Universo de Fredric Brown, onde o maravilhoso caminha a passos largos para o ainda mais maravilhoso. São diversos contos de ficção-científica, de inexcedível prazer para quem os lê. Que faria um homem que tivesse ficado só num planeta após o desastre do seu foguetão? Como reage ele, ser terreno num ambiente hostil em que nada lhe recorda o planeta de origem, agora tão longínquo? É esse o tema brilhante de um dos contos desta colectânea, intitulado Verde (porque a côr desempenha realmente papel fundamental e motriz na história).
Crise 1999, o primeiro conto a abrir a colectânea, é bem o exemplo de como Fredric Brown soube aliar os seus talentos de ficcionista que se exercem nos campos da literatura policial e da ficção-científica. O problema situa-se noutro aspecto: mais do que a perseguição do criminoso e do castigo do crime, fulcro central de quase todo o romance ou conto policial, aqui trata-se de não perseguir mais o criminoso e de deixar impune o crime. Como poderá uma solução destas ser moralmente aceitável para um Universo que não se encontra afinal muito distanciado no tempo, mas ao alcance de todos os jovens de hoje? 1999 é uma época relativamente próxima e os conceitos éticos não sofreram tão radical modificação que os tenham tornado completamente opostos aos de 1962. Por outro lado, não se trata de encarar um Universo dominado por forças que são combatidas ainda hoje. A reacção geral mantêm-se idêntica: porquê, então, deixar um criminoso impune, um profissional do crime em liberdade, sem o castigar pela longa série de actos que aguardam expiação? Fredric Brown introduz um novo elemento, típicamente policiário, no Universo da ficção-científica: a expectativa, o mistério, a descoberta. E é por isso que, quando o leitor chegar ao fim deste conto não se sentirá logrado com a solução que, ao invés do que frequentemente acontece, não depende dum trunfo escondido na manga do investigador e que no final sómente é revelado ao leitor. Trata-se dum problema mais fundo e que já hoje em dia é sériamente estudado pelos psicanalistas e criminologistas. É, simultâneamente, uma revolução total, mas possível e provável, com elementos de que já hoje dispomos.
Um outro conto desta colectânea, principia desta forma: O último homem sobre a terra encontrava-se sentado numa sala. Era uma sala muito especial. Acabava de reparar na estranheza que a fazia parecer assim tão especial e procurava saber por que motivo dava essa impressão. A conclusão não o aterrorizou, mas aborreceu-o. Não era a aparência da sala que o preocupava. Naquele momento, de resto, as suas impressões eram limitadas. Abstractamente, ELE SABIA QUE, DOIS DIAS ANTES, NO ESPAÇO DE UMA HORA, TODA A RAÇA HUMANA FÔRA DESTRUÍDA EXCEPTO ELE E UMA MULHER; ALGURES... UMA MULHER... Dificilmente se encontrará processo de iniciar um conto ou um romance de forma a atrair mais e a satisfazer a atenção e as exigências do leitor. Mas as conclusões, os desenvolvimentos, progressos e meandros das histórias, sabê-los-á o leitor, com completa satisfação, quando ler O ESPAÇO SERÁ PEQUENO.
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Vem e Endoidece por Fredric Brown
[Contos] Crise 1999 por Fredric Brown
Sirius Coisa Nenhuma por Fredric Brown
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