Rétif de la Bretonne talvez seja mais conhecido como escritor erótico do que como colaborador da Revolução Francesa. Realmente, não se pode dizer que tenha sido um militante ativo da causa - era mais um flâneur, um espectador noturno, como define Rouanet. Numa refinada e saborosa análise, Sergio Paulo Rouanet, um dos mais importantes e polêmicos pensadores brasileiros, faz vir à luz a intrincada relação entre Rétif e a Revolução. Autor de imaginação quase delirante, Rétif foi, tanto na panfletagem quanto na literatura, inovador, extravagante, estranho, mas sobretudo profundo. Entre suas propostas para a construção de uma nova sociedade, a abolição da propriedade, por exemplo, convive lado a lado com a abolição dos genros que maltratam suas esposas e sogros. Contraditório, ambíguo, Rétif encarna a essência mesma da Revolução.