O livro de Conquest é uma imperdível obra-prima de história. De tão alta qualidade que nas suas mais de quinhentas fornidas páginas dificilmente se encontrará algum juizo de valor que permita acusar o autor de anti-comunismo (apesar de ter sido acusado “... de colocar a sua produção acadêmica ao serviço dos objectivos da propaganda política anti-comunista”.
O que há ali, em altíssima dosagem, é uma minuciosa pesquisa, um levantamento como poucas vezes se terá visto na historiografia contemporânea. Alguma coisa à altura da grandiosidade dos crimes e das deformidades do regime stalinista — onde o que em algum momento fora política no mais genuino sentido do termo, política praticada por uma comunidade de homens muitíssimo bem preparados e perfeitamente conscientes dos seus métodos e objetivos, viria a se tornar puro banditismo (“a política como tal havia desaparecido”, diz Conquest), executada por uma quadrilha de sujeitos moralmente degradados encastelada num estupidamente poderoso aparato de Estado, conscientes da brutalidade dos seus métodos e da natureza das suas mentiras.
Acompanhada de uma extensa análise que tenta alcançar nas estruturas e nos métodos do partido bolchevique as raízes da deformação stalinista, mas não apenas ali, a pesquisa de Conquest é às vezes de tirar o fôlego. Se há problemas nas análises ou em aspectos delas, e certamente há, de forma nenhuma eles estão lá onde se poderia verificar a depreciação do trabalho do historiador.
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