Charles Spurgeon usa a inesperada morte do príncipe consorte Albert de Saxe-Coburgo-Gota, marido da Rainha Vitória, ocorrida em 1861 como tema de seu sermão evangelístico em Amós:
"Acaso a calamidade sobrevém a uma cidade sem que o Senhor a tenha planejado?” (Am 3.6 NVT) – uma pergunta muito apropriada no momento presente. Houve mal nesta cidade; uma calamidade de natureza atípica e desastrosa recaiu sobre esta nação. Perdemos alguém que encontrará mil línguas a fazer seu obituário laudatório; um príncipe cujo louvor está na boca de todos, e que é tão benquisto entre vocês que me é desnecessário recomendar a memória do Príncipe Albert aos seus corações. Perdemos um homem sobre o qual alimentamos suspeitas enquanto viveu; que pouco podia fazer sem levantar nossa desconfiança; o fantasma da intromissão e da influência inconstitucional sempre nos alarmou, e agora que ele partiu, podemos sinceramente lamentar que não fomos capazes de confiar quando a confiança era bem merecida. Ele não pôde se queixar de falta de reverência ao seu posto, seus talentos ou sua casa; mas de seu túmulo pode bem vir o sussurro da memória, lembrando-nos de muitas suspeitas infundadas, alguns juízos temerários e uma ou duas difamações insensíveis . Me agradou uma observação feita por um grande jornal no sentido de que a remoção do Príncipe Consorte poderia sugerir profundo pesar para nossa pobre homenagem e comedido respeito. Ele não mereceu nada de nós senão o bem. Postado na posição mais perigosa, seu pé não resvalou; de pé, onde a menor interferência teria deflagrado uma tempestade de ódio contra sua cabeça, ele prudentemente se recolheu, e deixou as questões públicas de lado, tanto quanto possível. Observando a natureza de nosso governo, e a posição do trono em nossa constituição, devo dizer: “Em verdade é uma grande calamidade a perda de tal marido para tal Rainha”. Tão duro é este mal, que nossos corações atribulados são encobertos com a sombra de outros males, dos quais este pode ser o triste arauto. Com Davi, dizíamos “Minha montanha permanece firme e não será abalada” (Salmo 125:1 , citado não literalmente) – e um terremoto começa, a montanha treme, grandes rochas despencam – o que mais virá? Esperávamos guerra , mas nada nos preparou para um funeral real; aguardávamos com apreensão as lutas no estrangeiro, mas não perdas em casa. E agora, sentimos que uma pedra de alicerce da Casa Real foi retirada, e esperamos com pesar e temor o que virá depois, e depois, e depois.
Agora, porém, nosso texto levanta a voz e exige ser ouvido, pois é uma pergunta feita pelo Deus Eterno. “Haverá um mal na cidade que não tenha sido feito por Deus?”. Falaremos de duas coisas nesta manhã. Primeiro, Deus o fez. Segundo, Deus o fez para um propósito. Procuremos encontrar, se pudermos, que propósito é este.
NOTA: Essa tradução foi publicada em português no dia do sepultamento de Sua Alteza Real, Philip Mountbatten (Corfu, Grécia, 10 de junho de 1921 — Windsor, Inglaterra, 9 de abril de 2021). Nascido Filipe da Grécia e Dinamarca, foi o 1° Duque de Edimburgo e marido da rainha Elizabeth II e consorte real do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte desde 1952 até sua morte, aos 99 anos. Foi a primeira morte de um consorte desde o príncipe Albert, de quem Spurgeon usou a morte para tema desse sermão.
História / Religião e Espiritualidade