«Não mostrei a ninguém o meu tesouro. À felicidade de possuí-lo juntou-se o medo de que mo roubassem, e depois o receio de que não fosse verdadeiramente infinito. Essas duas inquietações agravaram a minha já velha misantropia. Sobravam uns amigos; deixei de vê-los. Examinei com uma lupa a lombada já gasta e as capas e rejeitei a possibilidade de algum artifício. Comprovei que as pequenas ilustrações distavam duas mil páginas uma da outra. Fui-as anotando num registo alfabético, que não tardei a encher. Nunca se repetiram. De noite, nos escassos intervalos que me concedia a insónia, sonhava com o livro.»
Excerto de "O Livro de Areia"
Literatura Estrangeira