O relato real de um dos mais famosos motins dos anais da história naval. |...| Em 23 de dezembro de 1787, com o apoio do poderoso Joseph Banks, 43 vezes presidente da Royal Society, o HMS (ou "navio de sua majestade") Bounty zarpou de Spithead, Reino Unido. William Bligh, tenente que navegara com o já imortalizado capitão James Cook, dirigia a viagem. Com ele, iam 45 homens, voluntários provavelmente encantados com a possibilidade de conhecer o enigmático Otaheite, como era chamado o Taiti. Durante as primeiras semanas, o clima da tripulação era de paz e felicidade. A embarcação cruzou o Índico e passou pela remota Terra de Van Diemen (hoje a ilha australiana da Tasmânia), aonde somente quatro outros navios estrangeiros haviam chegado. Lá, Bligh teve seu primeiro problema. O carpinteiro William Purcell respondeu rispidamente a uma reprimenda por fazer tiras de madeiras pesadas demais. A insolência bastaria para que ele fosse preso e enviado à corte marcial, mas Bligh, naquela terra inóspita e com uma tripulação diminuta, julgou não poder abrir mão de seu único carpinteiro. "Foram plantadas as sementes da eterna discórdia (...) com todos os oficiais", anotou James Morrison, o ajudante do contramestre em seu diário. O trajeto final, no Pacífico, foi tenso, com direito a um marinheiro morto por infecção, três doentes com escorbuto e o médico, entregue ao alcoolismo. A fim de manter o ânimo de seus homens, o capitão instituiu a dança noturna. Quem não participasse ficava sem rum...