Obra de enorme sucesso no Brasil e no mundo, O pagador de promessas inspirou o filme de mesmo título que ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes de 1962. Esta edição conta com orelha assinada por Ferreira Gullar.
Nesta peça de renome internacional, o autor narra o emocionante calvário do simplório Zé-do-Burro: para cumprir promessa feita a Iansã, pela cura de seu burro, ele divide seu sítio com os lavradores pobres e carrega pesada cruz de madeira no percurso de sessenta léguas, com o objetivo de depositá-la no interior da igreja de Santa Bárbara, em Salvador.
Dias Gomes é um mestre de seu ofício. Ele o tem demonstrado sobejamente em cada uma de suas obras. E O pagador de promessas não poderia deixar de refletir esse domínio seguro dos meios de expressão dramática. A ação, que se deflagra já nos primeiros momentos da peça, é conduzida com intensidade e economia, a cada quadro, a cada ato, arrastando-nos de maneira irresistível até o desfecho final. A narrativa é clara e densa, com repercussões que vão sempre além da palavra enunciada.
Ao contrário do que acontece com muitas obras teatrais de qualidade, que se iniciam com ímpeto e às vezes o mantêm até certa altura para nos frustrar no final, esta peça de Dias Gomes é um todo completo e acabado: o seu final não resulta em frustração, mas em plenitude. E para isso é preciso mais do que dominar a técnica: é preciso que se reúnam, na realização da obra, aqueles fatores imponderáveis que dão nascimento à verdadeira obra de arte.
E isto é tanto mais significativo porque esta peça afirmou ontem e reafirma hoje as possibilidades efetivas do teatro brasileiro: um teatro capaz de revelar a universalidade de nossa experiência, de nos impor como criadores de cultura.
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