O olhar doloroso e visceral de uma criança em meio à guerra
Uma obra poderosa e transgressora chega aos leitores brasileiros. O Pássaro Pintado é um romance inquietante e devastador que segue as andanças de um menino judeu separado de seus pais durante a Segunda Guerra Mundial. Os caminhos que ele percorre são tortuosos, e os violentos encontros com outras pessoas alteram a sua vida para sempre.
O Pássaro Pintado, lançamento da Macabra Filmes em parceria com a DarkSide® Books, é uma obra emocionalmente desafiadora de realismo mágico que oferece uma visão comovente da experiência humana em tempos de guerra. Escrito por Jerzy Kosiński e publicado pela primeira vez em 1965, o livro gerou muitas controvérsias que levaram ao fim trágico do autor. Em 2019, O Pássaro Pintado foi adaptado para o cinema com beleza e brutalidade em uma obra dirigida por Václav Marhoul.
Com uma narrativa explícita, violenta e desoladora, O Pássaro Pintado é um resumo cruel dos dias terríveis em que parte da Europa esteve dominada pela ideologia nazista, e oferece um retrato bastante fiel do preconceito, do espírito humano alquebrado diante da brutalidade e da ignorância. Ao mostrar a selvageria pelos olhos de uma criança, que passa pelo inferno para sobreviver a uma guerra que não lhe compete, a obra visceral de Jerzy Kosiński combina a realidade angustiante e a inocência comprometida em cenas que nos lembram os atos cruéis da guerra, das vidas destroçadas e da humanidade perdida para que possamos mudar o curso de nossas vidas na paz. A história pessoal do narrador é compartilhada por todas as crianças que ele encontra pelo caminho, que cresceram com autoridades tortas, discursos de ódio, ignorância e preconceitos de todas as ordens. E todos eles desembocam numa vivência adulta precoce, vingativa, bélica, e que ainda não diferencia respeito e medo, poder e responsabilidade.
As palavras aqui não são farsas, são sintéticas na forma, verdadeiras na mensagem, eloquente e devastadoras como um tiro preciso na têmpora. Os pássaros daqui não batem asas. Foram todos condenados, mutilados em trincheiras de lama, fezes, pólvora, ossos e saudade do lar. Kosiński, na vida real, tentou voar e foi abatido por um mundo cinza, frio e vazio. A obra que gerou polêmicas foi reconhecida por autores e artistas como David Foster Wallace, Arthur Miller, Neil Gaiman e Guillermo del Toro, e chega ao Brasil com tradução cuidadosa de Regiane Winarski, um posfácio poderoso do escritor Henry Bugalho, e uma análise sensível da adaptação cinematográfica pelo jornalista Lucas Maia, do canal Refúgio Cult.
Nessa tentativa de se encontrar em meio a tantas mudanças, de descobrir pelo que vale a pena viver em um cenário que pouco faz pelo espírito, O Pássaro Pintado nos faz refletir sobre a nossa própria humanidade e a responsabilidade de proteger e cuidar uns dos outros. Em meio a todo o mal, um chamado à consciência e à compaixão.
Literatura Estrangeira