A construção histórica e cotidiana de um lugar à margem; um lugar que, embora seja ficcional, é, graças aos personagens que o habitaram, visceralmente realista. Sua formação se faz sob o signo de uma colonialidade profunda, fundada na naturalização de certos paradigmas do senso comum, nas relações sociais mais estruturantes do patriarcado, na forma obtusa a partir da qual os indígenas são postos sob múltiplos padrões de opressão e na condição de privilégio do militares, invariavelmente vistos como salvadores da pátria - de modo a indicar um certo (péssimo) gosto pelo autoritarismo que está sempre à espreita a fim de dar tudo aos donos da América Latina.
Um punhado de vidas marcadas pelos afetos e pela brutalidade, conduzidas pelas mais gritantes imperfeições humanas, no meio de uma geografia imaginária dominada por um rio em cuja margem se ergue uma cidade que poderá nos remeter à Macondo. Em O rio que me habita, por vezes irrompem o lendário e o fantástico, trazendo ecos dos romances clássicos latino-americanos, mas logo revelam-se outros traços, de matiz inequivocamente contemporânea.
Literatura Estrangeira