A primeira edição de Saci Pererê – Resultado de um Inquérito foi publicada em 1918. O mundo entrava então no último e decisivo ano da I Guerra Mundial, os jornais enchiam-se de tragédias e o sentimento de insegurança se espalhava. Não por acaso, Lobato agradece ao duende pela trégua. Pensar folclore, dizia ele, era desviar a mente da carnificina.
Mas seria um erro pensar que a cultura popular serve como algum tipo de alienação ou fuga. Muito pelo contrário, a própria escolha por mergulhar no imaginário popular é uma escolha política – relacionada àquilo que se pretende valorizar diante do que o mundo se esforça em esquecer.
Lobato, o mesmo que execrou o caipira na figura de Jeca Tatu, é aquele que vai capitanear essa campanha de valorização folclórica tendo o saci como seu grande estandarte. Foi sua resposta. O imaginário do progresso, da eficiência máxima, encontrou na máquina novas formas de extermínio. Contra isso, retornamos ao rés do chão, à tradição, à memória e, é claro, aos nossos mitos.
Hoje, 100 anos depois, retornamos ao saci nesta homenagem coordenada a partir das redes sociais. Com isso, não buscamos escapismo para os desafios que o país enfrenta. Falar de folclore é falar do Brasil profundo, é buscar afetos, é recuperar nossa história – algo que, mais do que nunca, se prova necessário.
Nestas páginas, ilustradores profissionais e amadores se debruçaram sobre o centenário livro lobatiano para dar forma aos depoimentos ali registrados. Acompanha cada arte um trecho que captura a riqueza daquele testemunho.
Muitos insistem em dizer que Lobato infantilizou o folclore, e quem repete essa afirmação nunca deve ter lido nem o Sítio do Picapau Amarelo e muito menos o Inquérito. Que esta obra, de distribuição gratuita, sirva de inspiração para mostrar a riqueza de nossa cultura.
Viva o Saci!
História do Brasil / Literatura Brasileira