Estes dois ensaios de Sartre foram publicados originalmente em revistas: "Veneza, de minha janela", na Verve, em fevereiro de 1953, e "O sequestrado de Veneza", na Les temps modernes, de novembro de 1957. No primeiro, Sartre consegue descrever com surpreendente lirismo a luminosidade aquosa da cidade, uma luminosidade tão singular que muitos críticos afirmam ter influenciado a própria coloração da pintura veneziana. Mas não se trata, nesse texto, de pintura. Trata-se de um exercício literário, de impressões de viagem de um turista em visita à nebulosa cidade, envolta por mistérios e por uma história gloriosa. "O sequestrado de Veneza" é uma vultosa reflexão sobre a vida e a obra do pintor veneziano Jacopo Robusti (1519-1594), o Tintoretto. Normalmente justifica-se a preferência por Ticiano em detrimento de Tintoretto com o argumento de que o classicismo de Ticiano serviria para iludir os nobres, para lembrar o tempo em que tudo era perfeito, em que dominavam o mundo. Ao passo que as cores soturnas de Tintoretto remeteriam à ausência de Deus, à indeterminação dos tempos modernos, à possibilidade de que a cidade, com seus castelos que parecem eternos, afunde-se no lodo.
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