O Sonho do Cartógrafo

Nos fins de 1980, o escritor James Cowan visitava o mosteiro da ilha atrás de alguma informação sobre Lord Byron. Acabou encontrando um diário escrito no século XVI pelo monge Fra Mauro, do Mosteiro de San Michelle di Murano. Especialista em cartografia, Fra Mauro tinha decidido desenhar o mapa definitivo, que abrangeria todas as descobertas das grandes navegações, das longas caravanas de mercadores e de peregrinos ao Oriente. Em seu esforço, tornou-se um cartógrafo tão célebre que praticamente todos os viajantes de seu tempo o visitavam para narrar suas aventuras e até o Papa e imperadores do Oriente saudavam sua sabedoria. Em tom confessional, Fra Mauro descreve não apenas as novos limites do mundo, com seu bestiário de Ciclopes, gigantes e povos subterrâneos, como também as novas fronteiras do conhecimento, nas quais o monge arriscava seu intelecto. É este o mundo que o solitário pensador desenhou com maestria. Sobre o pergaminho ele deitou sedas, especiarias, ungüentos de chifres de animais, contas de âmbar e leopardos em jaula, homens besuntados de ocre, encantadores de serpentes, altares com flores, cheiro de pólvora, mares revoltos e deuses pagãos. O texto brilhante e luxurioso — e com admitidas alterações por parte de Cowan — tem o sabor das coisas novas, o prazer das descobertas. Porém, mais do que um livro de viagem e aventuras, O sonho do cartógrafo é uma profunda reflexão sobre o homem e seu desejo de abraçar o mundo com seu conhecimento, dando-lhe ordem e sentido e, ainda, avançar rumo ao desconhecido. "O que realmente acredito", escreve o monge, "é que meu mapa é uma distorção. Agora percebo que o mundo só é real no modo como cada um imprime sobre ele sua própria sensibilidade..." As observações de Fra Mauro sobre a descoberta do mundo têm todos os indícios de autenticidade, mesmo que tenham sofrido eventuais acréscimos por parte de copistas. As ilustrações contidas neste livro são detalhes de outro trabalho sobrevivente de Mauro, também relacionado ao seu mappa mundi, conservado na biblioteca Nazionale Marciana em Veneza. O mapa do mundo de Fra Mauro jamais foi encontrado.