Depois de tratar da emancipação humana de certa ordem do conhecimento (O mestre ignorante) e de certa ordem do tempo e das atividades que hierarquiza os seres humanos (Tempos modernos), Jacques Rancière se volta à arte dos jardins, no que à primeira vista configuraria um desvio em seu percurso intelectual. A via que ele toma, no entanto, segue à risca o programa de sua filosofia: é pela reconfiguração de uma realidade sensível partilhada, e pelas condições subjetivas em que ela pode se dar, que ele retoma a velha cisão natureza-cultura no seio dos debates sobre a arte. Mais do que o veículo de expressão de um espírito criativo, a arte dos jardins, cujo meio sensível consta não de pigmentos ou de formas das quais tal espírito disporia “livremente”, mas de uma matéria viva, se presta, como caso limite, a efetuar uma virada crucial na maneira como percebemos a imbricação da estética, da arte, da política e da vida.
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