Cazuza morreu em julho de 1990. Três meses depois, amigos montaram um tributo no Rio chamado Viva Cazuza - Faça parte desse Show, cuja renda seria doada ao Hospital Universitário Graffé e Guinle, referência em Aids naquela época. Quando Lucinha Araújo foi entregar o cheque, percebeu que sua atuação contra a doença não havia se encerrado com a morte do filho - ela que queria apenas lamber as feridas depois de passar pelo ritual simbólico.
Neste livro,, Lucinha conta como tomou a frente da ONG que dá suporte a crianças e adolescentes portadores do HIV e qual era seu sentimento logo que a doença se tornou epidemia. Ela conta que sempre quis ter muitos filhos, e a convivência com as crianças da Sociedade Viva Cazuza, depois da morte do cantor, a trouxe de volta à vida, como se fosse um renascimento.
Hoje, quando Lucinha olha para suas crianças, que brincam, estudam e cantam, faz uma remissão ao seu próprio passado. Aparentemente absorto das conversas que o pai, João Araújo, tinha com os artistas que frequentavam sua casa, Cazuza rabiscava mapas de cidades fictícias. Enquanto costurava, Lucinha ouvia rádio e cantarolava. Ela acha que essas experiências impregnaram Cazuza de musicalidade.
São muitas as histórias que Lucinha conta em seu livro. Como a de Marcelo, a primeira criança a morrer na casa por ter contraído meningite criptocócica; a de Lucas, cuja mãe era interna do hospital Pinel e roubou o filho depois de ter pulado o muro da Sociedade Viva Cazuza; a de Newton, a criança número um da casa, com quem Lucinha confessa ter maior afinidade.
O livro traz alguns depoimentos de pessoas que cruzaram e deixaram impressões na vida do cantor, como Ney Matrogrosso, que aposta que Cazuza, hoje, seria exatamente igual na essência: irreverente, debochado, com alto senso crítico. Lucinha diz que sentiu certo receio de dividir o livro com os amigos do filho, até porque relações amorosas e de amizade são muito diferentes, mas ela resolveu dar voz a alguns que têm do que recordar.