Mulher com lapsos de memória tenta descobrir o que aconteceu com o gato Adoniran e com o irmão mais novo, muitos invernos atrás, em uma estação de esqui.
“Eu poderia começar fazendo um inventário das coisas que perdi: uma blusa verde com um broche de lagartixa durante uma viagem de trem. Uma pasta de dente sabor hortelã após um voo intercontinental. Um namorado, em 1982. Uma meia. Um comprimido de aspirina. Algumas lentes de contato. As chaves de casa — mas estavam dentro da sacola da feira, o que eu só descobri depois de trocar todas as fechaduras.
Lá se vão quase trinta anos e não me lembro de onde vem a frase: “Não quero morrer em Cordeirópolis”, que, por alguma razão, está anotada à margem de um caderno de francês. Com a minha letra. Outra coisa que jamais consegui confirmar é uma história que alguém me contou sobre um casal que, a título de experimento, ocultou do filho a palavra “maçã” até que ele completasse uns seis anos de idade. (...)”
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