Estava de castigo. As lágrimas secaram no rosto como a cola que ficava na ponta dos dedos quando fazia os trabalhos da escola. Estranho a química. Estranho. Fechou os olhos numa careta para sentir a lágrima beliscar seu rosto. O que havia feito de tão mal? Era uma menina má. Isso estava escrito. Foi quando viu a palavra entrar por uma brecha de claridade. A palavra estava de castigo também? Parecia cansada e veio até ali depois de tanto voar? O choro havia deixado um fungar involuntário. A palavra ouviu. E a olhou nos olhos assustada. Mas ela era uma menina tão má que num zás agarrou a palavrinha assustada. Pegou a palavra entre as mãos. No meio do voo. O coração da palavra palpitava. E o corpo estava quente da fuga. Como um passarinho prestes a morrer. E o quase morrer era tão bonito! Deixou a palavra aquietar-se em suas mãos. Olharam-se por um tempo. Eram de natureza diferente a menina e a palavra. Mas uma cabia na palma da mão pequena da outra. E uma deixou-se aquietar na outra. E tanto conviveram que depois de então uma passou a habitar as linhas da palma da mão da outra.