distância entre um conflito mundial e um conflito entre pais e filhos é menor do que parece. Um conflito entre pais e filhos, assim como o outro, é um choque entre duas maneiras de ver o mundo: os filhos se ressentem da realidade recebida por seus pais, enquanto estes reclamam do que os filhos fazem com o mundo que receberam.
Juan Gabriel Vásquez lança mão desses dois universos, o do conflito maior, político e internacional, e o do menor, no âmbito familiar, para contar uma história cujo epicentro é uma traição e retratar o espinhoso caminho que separa a ignorância e o conhecimento dos fatos acerca das pessoas que nos são próximas.
A narrativa é estruturada sob dois eixos temporais: a Colômbia dos anos 80 e 90, em que a população vive amedrontada pelos cartéis das drogas – a partir de quando é contada a história – e a Colômbia das décadas de 30 e 40, época em que o país recebia levas de imigrantes europeus e quando alemães e descendentes de alemães estavam à mercê da perseguição política. Os protagonistas chamam-se, pai e filho, Gabriel Santoro.O primeiro, um erudito viúvo, figura pública de prestígio na sociedade colombiana e professor de retórica. O segundo, um jornalista, autor de um livro sobre uma imigrante alemã judia – livro que fora inexplicável e publicamente destruído por ninguém menos do que o pai do autor. Após anos sem contato, um problema de saúde reaproxima os dois, mas apenas momentaneamente, pois as voltas da vida, assim como as da história, não tardam a perder os personagens, lançando Gabriel, o filho, numa dolorosa viagem sem volta em busca da verdade sobre o seu progenitor.
Embalada por traições públicas e privadas, esta é a história de como um ato, ainda que cometido em circunstâncias ambíguas e fruto da ação de um único indivíduo, se entranha na história maior – a história de um país – e tem consequências tão desastrosas quanto duradouras. Consequências indeléveis como só a culpa e a persistência de um afeto podem ser.