Em 2003, a invasão do Iraque pelas forças armadas norte-americanas e a consequente deposição do regime de Saddam Hussein foram baseadas num jogo de mentiras e meias verdades que estarreceu o mundo. As armas de destruição em massa supostamente à disposição do Exército iraquiano jamais foram encontradas, e desde então tem sido quase impossível justificar essa desastrosa intervenção militar sem admitir que os interesses da indústria do petróleo sempre estiveram por trás do discurso pró-democracia evocado pela coalizão ocidental. Do mesmo modo, em nome de valores universalmente reconhecidos como autodeterminação dos povos e direitos humanos, os bombardeios da OTAN que se seguiram à recente revolução popular na Líbia reeditam os piores episódios do imperialismo europeu no século XIX. Segundo Tzvetan Todorov, esses são apenas alguns dos exemplos que evidenciam a assustadora corrosão da democracia no mundo contemporâneo. A cidadania encontra-se cada vez mais ameaçada pela perigosa combinação entre o cinismo dos políticos tradicionais, indiferentes aos verdadeiros anseios da sociedade, e a ascensão de movimentos populistas à direita e à esquerda. Consagrado por sua influente produção intelectual como historiador, crítico literário e linguista, em seu mais recente livro Todorov intervém com lucidez no debate público sobre a sobrevivência da democracia no século XXI, emitindo um eloquente alerta sobre a sorrateira supressão das liberdades engendrada por governos, mídias e corporações.