Foi somente há pouco mais ou menos quatro décadas que se começou a levar Camões aos estudantes, não como um monstro sagrado", mas como altíssimo poeta, ao qual era preciso amar e vibrar com ele, não só na obra épica, mas também na lírica. Claro que nos referimos ao magistério comum, pois camonistas ilustres sempre os houve, desde os fins do século XVI, isto é, pouco depois da publicação de Os Lusíadas em 1572. Ainda somos do tempo em que o importante era analisar sintaticamente Camões... Mas, por felicidade nossa, em curso que iniciamos mais maduros, encontramos mestres que amavam os seus clássicos de entranhado amor, que nos davam dos gênios cuja vida e obra transmitiam uma visão diferente. Eram assim Cláudio Brandão com os gregos, José Altimiras com os latinos, Wilton Cardoso, Mário Cassanta e Aires da Mata Machado Filho com os portugueses, José Oswaldo de Araújo com os brasileiros. Em síntese, descobria-se, além do modelo deste ou daquele gênero, o homem, e sua obra passou a deslumbrar-nos. Foi assim com Camões, em cuja biografia não faltam inclusive mistérios e lapsos, excitando a nossa imaginação, como o problema das amadas do Poeta. Era um modo novo de encarar a obra genial. Obra, meio, tempo, o sopro da inspiração.
Não importa indagar se foi maior épico ou lírico o nosso Camões. Aliáis, foi o maior épico da língua portuguesa, mas foi ainda mais lírico do que épico. Foi "poeta pela graça de Deus; a poesia é o ar que aspira e expira; todas as forças de sua vida interior se desdobram em poesia", como se disse um camonista alemão ilustre. Devemos a citação a outro camonista insigne, Aires da Mata Machado Filho.
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