Durante a Idade Média europeia, o caráter sagrado da realeza era considerado um fato conhecido por todos. Os reis não eram simplesmente identificados como os mais altos funcionários do Estado: em torno de suas pessoas havia uma ideia de sacralidade, reconhecida por seus súditos. Seu poder, acreditava-se, advinha de antigas linhagens, e era sinal de sua própria relação especial com o divino.
Na França e na Inglaterra, essa realeza mágica desenvolveu um caráter específico: acreditava-se que os reis eram taumaturgos, ou seja, curandeiros, e que o simples toque de sua mão seria suficiente para restaurar a saúde aos doentes. Mas não se tratava de qualquer doença: por razões que o historiador francês Marc Bloch procura explicar em sua obra, esses reis eram considerados capazes, por meio da influência divina, de curar especificamente a escrófula.
Os Reis Taumaturgos é uma das obras mais significativas da historiografia contemporânea. Representa a adoção de uma nova perspectiva culturalista para o estudo da história, e marca a abordagem adotada pela escola histórica dos Annales em relação aos temas históricos. O poder e a realeza deixavam de ser temas exclusivamente políticos, para serem analisados a partir de representações, crenças, hábitos socialmente compartilhados.
Partindo da Idade Média e alcançando finais do período moderno, Marc Bloch procura traçar as origens da crença na taumaturgia dos reis, as complexas relações que essa crença estabeleceu com os diferentes panoramas políticos da França e da Inglaterra, chegando ao momento de seu desaparecimento.
Por que surgiu a crença no poder taumatúrgico dos reis franceses e ingleses? Por que essa crença acabou dirigida especificamente à cura das escrófulas? Como essa crença foi adotada pelos soberanos como representação de seu poder político? E, por fim, por que tal crença, que durou tanto séculos, acabou desaparecendo?
Essas são algumas das questões de Marc Bloch procura responder em Os Reis Taumaturgos.
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