Blaise Pascal (1623-1662), matemático, geômetra e físico, que muitos vêem como o precursor da ciência contemporânea, defensor do catolicismo e inimigo dos jesuítas, polemista mordaz tentado pela reclusão voluntária, freqüentemente fica em segundo plano com relação à lenda que seus dilaceramentos de consciência e sua morte precoce alimentaram.
Nesse ensaio introdutório, o estudioso Francesco Paolo Adorno lança luz sobre o autor dos Pensamentos e do Ensaio sobre as cônicas, sobre o pensador por trás das invenções teóricas — que não foi prejudicado por seu “preconceito” teológico — e coloca em foco sua grande atualidade.
O livro aborda, de início, a antropologia de Pascal, que desemboca numa definição da razão como potência aquisitiva que procede por aproximação infinita, definição aceita pelas mais recentes teorias do conhecimento. Depois, sua epistemologia, que permite construir com rigor as condições (sempre válidas) de uma experiência científica e sabe absorver o acaso para transformá-lo em objeto de cálculo. E, por fim, sua política, que, apoiando-se nos múltiplos elos do sujeito crente — em que pesem os impasses para onde os levam as contradições entre vida civil e vida religiosa, que ela não pode resolver —, nos torna sensíveis à natureza conflituosa de toda formação social.
Dessa forma, mostra-se que Pascal, o atormentado, está mais próximo de nós por sua ciência que por seus tormentos...