(...) Se você quiser mudar um homem, transforme sua casa” – tal poderia ser o lema de Hugh Hefner, o fundador da revista Playboy, que além de inventor das “coelhinhas”, performatizou o que ele entendia como “emancipação masculina”. Penthouse para celibatários, cama giratória, jatinho privado, piscinas translúcidas, night-clubs, mobiliário de design, mansões extravagantes repletas de câmaras de vigilância. Em plena guerra fria, Playboy inventava a primeira utopia erótica da era da comunicação de massa: um bordel multimídia em que um homem, divorciado, celibatário e polígamo, vive acompanhado de um harém composto por trinta garotas filmadas 24 horas por dia em meio a um parque temático sexual.
É a partir das relações entre arquitetura, tecnologia e sexualidade que Paul Preciado estuda o império Playboy, primeira indústria de entretenimento sexual do capitalismo global. Com um raro talento filosófico, inspirado na ideia de heterotopia de Michel Foucault, o autor inventa a noção de pornotopia, e se debruça sobre o arquipélago Playboy para entendê-lo como realização contemporânea das utopias sexuais de Sade e tantos outros. No coração da pornotopia Playboy, a arquitetura se torna o espaço de teatralização da heterossexualidade. E a pornografia, o mecanismo de “produção pública do privado e espetacularização da domesticidade”. Como negar que a masculinidade de hoje ainda é vivida no rastro desse imperativo?