Pra te comer melhor avança de lá de baixo como um zumbido lento, mas desmesurado. O leitor não tem escolha e deve ir às profundezas. É preciso descer onde ninguém mais se atreve, diz um personagem – e essa é a obsessão de seus contos. Que desçamos ao canal, ao pavilhão, que atravessemos a montanha para vermos aqueles corpos envenenados, injetados e medicados, aquelas matérias-primas famintas, aquelas meninas grávidas, aqueles suicidas, aqueles esqueletos amorosos. Aqui, os personagens morrem, estão prestes a morrer ou pertencem a outro mundo. Mas, felizmente, o efeito da sua escrita é duplo e esses corpos sacrificados não deixam de ser sexuais, tentadores e fantásticos, porque são livres, daí que essa radicalidade também seja política.
Ficção / Literatura Estrangeira