Em textos breves e desconcertantes, Roberto Bolaño coloca em xeque os limites entre a realidade e a ficção, o vivido e o imaginado.
Roberto Bolaño não tem a mínima preocupação com os gêneros tradicionais. Simplesmente convida o leitor a acompanhá-lo em histórias que muitas vezes parecem memórias de juventude ou lembranças de viagem. De repente, estamos enredados na ficção, quando não na rememoração de um sonho, e não de um simples evento biográfico.
Fica fácil entender por que o escritor chileno já era considerado um dos principais renovadores da literatura latino-americana, quando morreu prematuramente, aos 50 anos, em 2003. Para Enrique Vila-Matas, Bolaño vinha pôr fim ao beco sem saída do realismo mágico. Para Susan Sontag, ele já tinha assegurado "um lugar permanente na literatura mundial". E isto apesar de ter vivido na obscuridade até a década de 1990, exilado, primeiro no México e depois na Espanha, tirando seu sustento de trabalhos precários.
E a marca principal dos personagens de Bolaño é justamente a precariedade, seja a econômica, seja a afetiva. São os jovens chilenos dispersos depois do golpe liderado pelo general Augusto Pinochet, em 1973. É o escritor desconhecido que vagabundeia pela França e pela Bélgica. É o filho de uma prostituta que revê os filmes pornô da mãe grávida dele. É o cadáver de um boêmio que toma contato com a necrofilia de uma celebridade da alta costura. De um modo ou de outro, todos vivem mergulhados na amarga ironia do autor, que parece identificar-se com cada um deles, num jogo de fingimento e revelação simultâneos.
Contos / Literatura Estrangeira