bia | @biatalendo 19/06/2024
Don't die.
São quase 1500 páginas de livro e eu quero escrever uma resenha a altura disso.
Primeiro, eu li a última página do livro, e imediatamente tive uma crise de soluços e tô soluçando até agora. Tenho certeza que é psicossomática, o porquê, vem agora.
Eu tenho uma conexão de vida com Harry Potter. É bizarro, assustador, a força que essa história me deu pra tocar a minha vida desde que eu era uma criança. Ler Manacled e me deparar pela primeira vez com o universo que eu tinha de HP, concreto e da maneira que eu conhecia, completamente devastado, foi algo e tanto.
Absurdo o que a Sen expandiu de Harry Potter aqui. Uma necessidade que veio conforme eu crescia e minha paixão pela história só aumentava, é que eu queria mais drama, mais horror, mais expensão, e a Sen faz isso aqui, de uma maneira quase cruel com os leitores.
A profundidade que ela dá para assuntos antes pouco abordados, chega a ser bonito de se ver, como a magia da cura, as runas e as magias das trevas, são agora, tão bem elaborados.
E em falar de elaboração, que escrita fantástica. Chega a ser melancólica, triste, de tão bem que ela integra as palavras com o ambiente, é quase uma dialética, ela cria um que precisa criar o outro. Se eu não me engano, ela escreveu tudo no celular, o que deixa me deixa mais absorta ainda.
Há a questão de ser extremamente inspirada em O Conto da Aia (meu livro favorito da vida, inclusive). Sim, é, e na primeira parte é quando temos tudo isso claro, mas a autora deixa isso explícito antes da história começar. Devemos relembrar, que se inicia como uma fanfic, e fanfics são elaboradas pelas paixões dos autores (todos os livros, mas arrisco dizer que com fanfics, mais ainda.). Essa inspiração não devia ser tratada como mártir, porque se tornou uma problemática a partir do momento que Manacled se tornou um fenômeno, consequente de ser de fato, uma história com muita, muita qualidade.
É possível, sem dúvidas, criticar e desprezar o que o livro traz com temas sensíveis, agora, não é justo, falar que a obra não tem qualidade. As artes, a escrita, e elaboração do universo... é um livro praticamente completo. A Sen pensa muito bem onde encaixar cada coisa, da maneira de deixar tudo mais devastador.
Volto a primeira questão, o motivo do meu soluço. Eu li Manacled em um tempo muito espaçado, e a história me deixou mal da mesma maneira. Se eu tivesse lido em um frenesi, eu teria ficado ainda pior. Eu sofri pela história de uma maneira bizarra. Era de eu parar, respirar, fechar o Kindle e ficar dois dias sem ler às vezes, mesmo sendo uma leitura que eu fazia quase todos os dias por pura vontade. O sofrimento tanto pelas novidades que a autora insere, quanto pela destruição do que antes eu conhecia. Mexeu com questões muito pessoais minhas ver a minha Hogwarts destruída, e devo esse sentimento ao poder da escrita de Sen.
Entro agora, no assunto mais polêmico, da questão da romantização, muito dita sobre essa obra. Tem um contexto, e um contexto que a Sen tenta justificar o porquê do horror entre Draco e Hermione, acontecer. É convincente para mim? Não. Há no próprio livro, personagens que dizem o que o público quer dizer, e há uma resposta vinda da própria Hermione. A resposta não me desce, eu me agarrei em outras coisas.
Temos uma relação simbiótica, duas psiques destroçadas que se apoiaram na vulnerabilidade um do outro, e foi decisão da autora, escolher os piores caminhos possíveis para os dois personagens, para os atos que aconteceram, terem de acontecer. É nojento e perverso, mas foi a escolha da autora, deixar os personagens sem escolha. Vem da própria fala da Hermione, uma frase que deve ser refletida com todo cuidado, que o amor não é inteiramente puro, e eu concordo. Mas precisa haver um cuidado enorme ao inferir essa frase, e para mim, faltaram justificativas da autora nisso.
O que eu quero dizer é que, a literatura não tem dever moral de dizer o que é certo e o que é errado, tem que vir muito do leitor, saber o que está lendo e saber interpretar aquilo que está por vir, e tem coisa pra caramba para refletir e interpretar em Manacled. Reforço que não é uma leitura para quatorze anos e cia, quando mais idade, espero que haja mais maturidade, e mais senso ao fazer essa leitura. Especialmente compreender que a literatura não é só livrinhos de capa colorida e romances fofinhos. Há histórias pavorosas, como Manacled, que tu pode sair discordando e achando os relacionamentos que envolvem a trama, horríveis, mas com a noção que a autora tem o comprometimento com a trama dela e com fazer algo coeso à psique dos personagens, e não à nossa moral.
Com mais 50 páginas, para mim, teríamos um desfecho melhor de alguns personagens cruciais na obra. Algumas partes tão importantes, não foram abordadas pela autora, que decidiu continuar com uma repetição de não duas ou três, mas cenas que já aconteceram mais de cinco vezes, descrições repetitivas que o leitor já deve ter entendido. Outras partes importantes foram esquecidas para favorecer um drama que eu já estava bem ciente. Essa permanece sendo a minha maior crítica à história. Podiam ser 1500 páginas com muitas coisas que foram bem abertas no meio da história, fechadas e justificadas. Além de que podia surgir uma variação de emoção de outros personagens, especialmente da Hermione. Eu chuto, 300 páginas puras de sofrimento intenso, dissociação, ataques de pânico, EXTREMAMENTE condizentes com o que ela passou. Mas uma hora, eu senti que a autora podia ter colocado um pouquinho mais de outras emoções, ter variado no drama da narrativa dela. São essas minhas críticas desfavoráveis.
Ademais, marca-se então, o maior livro que eu já li, e ele foi todo em inglês. Uma leitura que demorei para concluir, mas que valeu muito, muito a pena, e fico feliz da minha dificuldade de digerir,e tomara que eu demore para esquecer também.