Tico Menezes 04/07/2024
Um diário no meu diário
Apaixonado por filmes como Dias Perfeitos e As Memórias de Marnie, aprendi que há um subgênero narrativo chamado slice of life e que amo com intensidade especificamente os mangás que contam esse tipo de história. Não uma saga repleta de adversidades e aprendizados através de metáforas espalhafatosas e explosivas, mas uma narrativa sobre voltar para casa a pé ou descobrir que a pessoa que você mais admira também tem problemas normais de seres humanos no capitalismo. Isso me fascina porque é tão próximo de mim, do meu olhar sensível ao que me rodeia e das coisas que eu sempre pensei sendo alguém que não busca mais se encaixar, mas sim existir em toda a liberdade e potencial de grandeza que existe na vida.
Aqui vamos para essa cidade litorânea - agora já tão querida por mim - de nome Kamakura, conhecemos três irmãs que têm uma dinâmica própria, se ajudam, crescem juntas e aprendem com o jeito uma da outra. Ao receberem a ligação de que o pai - ausente há muitos anos - morreu, também descobrem que têm uma irmã mais nova. E é aí o ponto inicial da jornada de amadurecimento dessas 4 jovens.
O humor situacional, a emoção com a presença e a atenção uma da outra, a sensibilidade da autora ao retratar situações corriqueiras e problemas reais, a arte belíssima que aproxima Kamakura do leitor, tudo isso torna Diário de uma Cidade Litorânea um slice of life cheio de vontade de viver o simples, com a mais bela noção da grandiosidade disso.
E preciso muito mencionar o quão corajoso foi o último arco desse volume, que colocou Suzu - uma das protagonistas - como coadjuvante de uma história sem deixar de continuar a jornada da personagem, jogou o protagonismo para um desconhecido, se propôs a debater um tema sensível como câncer na infância e conseguiu desenvolver tudo com sensibilidade, dando vigor à trama e deixar o leitor suspirando por mais.
Uma pérola na coleção de quem ama mangás, esse diário já é parte do MEU diário pessoal. Que leitura maravilhosa!