spoiler visualizarRenataliia 22/08/2019
Uma adaptação interativa e produtiva.
Sem sombra de dúvidas Machado de Assis é o ícone da literatura nacional. Descrever as mazelas, a podridão e a escória da sociedade burguesa brasileira sem que essa perceba (uma vez que, a sua época, o público leitor do Brasil eram os burgueses) é uma faceta única e genial do mestre das letras. E a obra Dom Casmurro retrata bem esse quadro.
A leitura da obra original é de extrema importante e todos devem fazê-la. Isso porque é necessário vivenciar o sarcasmo Machadiano e conhecer seu jogo de palavras, ideias, posições (quando em 1899 ele quebra a "quarta parede" e chama você, leitor, de besta) e linguajar.
No entanto, a leitura desse exemplar é capaz de cumprir seu papel: dar ao leitor uma ideia do que seja a obra original e gerar uma leitura de deleite. Em poucas páginas, a adaptação conta a história de Bento Santiago e apresenta os pontos mais relevantes da obra, como a famosa citação sobre Capitu que tem "olhos de cigana oblíqua e dissimulada". Tenta manter o tom melancólico (as ilustrações tem um papel singular nesse ponto) e preserva a linguagem da época (as próclises e ênclises que Machado tão bem sabe utilizar e abusar). O que, talvez, possamos apresentar como um ponto negativo é o fato de a ilustração de Ezequiel, filho de Santiago e Capitu, em sua mocidade, ser a mesma de Escobar, "o seu possível pai". Dom Casmurro tornou-se esse ícone literário devido a característica de deixar em aberta a questão da traição (Capitu traiu ou não traiu?) e na adaptação, por conta do fator ilustração, muitos leitores poderão afirmar com certeza que ela o traiu.
Diante disso, podemos dizer que a obra feita pela editora Nemo é fiel ao texto e de ótimo trabalho para turmas de ensino médio e alunos vestibulandos. Porém, ela jamais será capaz de superar a original. Tu, caro leitor, duvidas disso? Pois bem, então leia-as e depois discursemos ...