Dostoiévski viu o mundo. Descreveu-o magistralmente. Mas só apresentou o dinheiro miúdo do seu tesouro. Desembaraçou-se dele como quem atira o lastro. Uma vez realizado esse gesto, pôde tomar altura. Pôde desprender-se do pitoresco siberiano, esquecer os crânios rapados, as faces devastadas, as conversas ordinárias, para só pensar na lição inefável do presídio: transmitir o que aprendeu. E a vida inteira não lhe chegará para levar a cabo semelhante tarefa.
— Henri Troyat
Ao narrar a história de um assassino confesso condenado a trabalhos forçados, Dostoiévski reconstrói todo o mundo físico e psicológico de uma prisão da Sibéria, descrevendo com impiedoso realismo não só os dramas de um condenado — a fome e o frio, o trabalho pesado inutilmente realizado e os maus-tratos sofridos, a solidão e a privação de liberdade —, mas também os da condição humana em si. Inspirada nos quatro anos que o autor passou na prisão de Omsk, Recordações da casa dos mortos é a primeira grande obra do autor, da qual surgiriam mais tarde todos os seus grandes romances e personagens.
Literatura Estrangeira / Ficção / Romance